sábado, 29 de maio de 2010

Soleira

(À Bendita)

Segue caminhando por toda a estrada bela, porque toda estrada é bela! Entra quando chegar e encontrar a porta aberta, isto, porque sou de natureza prática e não tenho muito medo de ladrões! Adoro esconder refugiados, trapaceiros, infelizes, malditos, perversos, feiticeiros, pagãos. ... Adoro dormir no chão em noites de lua cheia, para dar a cama toda aos convidados que abrigo casa a dentro, corpo a dentro, água a fora.
Eu estarei sentado em algum cômodo da casa, provavelmente sucetivel, olhos estranhos á sua espera. Estarei quem sabe com as calças arreadas até os joelhos, chorando quem sabe, espremendo as faces, enquanto minhas mãos doces, muito rosadas, nem um pouco preocupadas em reza alguma que me detenha, mastigam o nervo postergado do meu veneno.
Eu foderia contigo sem compromisso, daria de tudo a ti se fosse esta a intenção, mas minha foda contigo começa noutras conjecturas, tu que és de natureza dada ao sofrimento, primeiro, teria que me ofender até que eu suplantasse toda a minha mágoa,(jamais pense com isto que eu goste de sofrer!Primeiro me entenda!)a tua voz e o teu cuspe, lavariam primeiro a minha cara de exigências e quando não mais me quisesses pedir, nada! Quando leve e esmaecida a tua face nesses vadios vazios sentimentos, dúvida apenas de porque ainda estiveras ali, no arrimo da minha casa, na planta mal cortada dessa alcova desfarçada de capela,nesta tua perdição, tão cheia a tua mente de objetivos bem traçados, tão intelectualmente bem definida a tua mente era...
Aí, sim! Neste vago, vasto campo de pequenos pastos, eu arrearia até o fim dos meus sapatos, a calça, a cueca, as meias e por fim os sapatos eu tiraria, deixaria aos pés a nudez e o risco dos cacos de vidros, das taças e espelhos que a tua fúria salivada destroçara. E foderia como quem quer se enfiar até os confins da carne, como quem apunhá-la a própria carne na conversão da luz do lamento, como quem se planta no fundo das terras pretas, apenas se planta, sem nenhuma grande pretenção de explodir em flor. E se eu gozasse, enfrentaria a morte, porque ela decerto é gozo ainda maior, e assim passando perto dela, teria condições de voltar viver e encontrar contigo de novo!Porque tudo é sempre novo, porque toda a trepada é renascer.

O Pornógrafo

terça-feira, 25 de maio de 2010

Entrada



Se alguém aqui acha que vai me ouvir falar de sofrimentos antigos, de moléstias da infância, de padres me forçando orações enquanto me enfiavam o dedo indicador no cú... Se pensam que tenho algum desvio de moral e de conduta e sou carente ao extremo para querer me enfiar em todos os buracos que o mundo me der ou quem sabe o contrário, quando me convier (porque sou recíproco e nunca platônico!), se alguém acha que tenho pacto secreto com demônios e blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá.... Ah! Desculpas já logo peço pela decepção! Porque, de mim, o que terão nascerá muito mais das entranhas e dobras da safadeza maior e primeiramente linda do mundo, o sol se espalhando indecente vermelho em fúria, enquanto os pássaros arrulhados do altos das árvores cagam com prazer, enquanto meninos fodem jamais escondidos e divinamente bêbados, nas escadas e muros recém aquecidos pela aurora. Serei de todo também poesia e rubor, serei peste e calor de febre e concupiscência, serei mácula e ciência, serei estampido, vertigem e demência, serei tudo... porque sou livre para ser o que eu bem quiser. E sejam comigo! Partindo, é claro, das vossas particularidades existenciais, porque não há deus que nos impeça demais, nem diabo que tanto se retraia, não há força maior que nos traia mais, do que nós a nós mesmos. E nem há perigo maior neste mundo do que prender a insistência da vida na cabeça do pau ou na entrada espremida entre coxas da buceta. Por hora nos tratemos assim, com este sumo meio amargo e doce da franqueza. Não nos impeçamos e não nos envergonhemos com o sol...
Porque acordo agora, bom dia!

O Pornógrafo