quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Une fête de viande tiède à Blanchot




Atravesso a porta, miro o espelho e digo: __Escarnece meu delírio!
Junge minhas dores e unge minhas feridas com a tua saliva!
Por favor!

...


Veludo roxo, de puta, de monge, de palhaço, de meretrício e de partes. Sagradas, sangradas, bandidas, banidas, marginais como um jato de boa água branca, cuspe e sangue, de dentro do corpo, mangue. Mangando de todos nós, mistérios jamais alcançados, sem sequer nosso corpo visitado, sentido, inspirado, aspirado, chamuscado, fuçado, cheirado! E de nós boa fúria e pestilenta piedade!
Festa aos marginais, as estrelas tontas do céu, as vertigens da abóbada da boca, quando vociferado, rosnado, cuspido ou babado teus nomes, tuas múltiplas e “ventanosas” formas de ser. Ilusoriamente se formando, quando tudo que mais desejamos, de desejo bicho, desejo esguicho, de libido, é somente a mistura no líquido bom que nos consome, regenera, mata a sede, a fome e tantas outras vontades não codificadas no nome.

Felpudo recosto da cadeira de deitar os pés até o chão desarrumado dos tapetes, abrindo com a fúria de quem rasga a braguilha da própria calça e devora com os olhos das plantas das mãos, o bolo de carne alongado no chão da virilha de homem, que na hora exasperada, eu sei, que sou para mim mesmo.
Deixar que nada a volta me atrapalhe, nem os ruídos dos pássaros, nem a loucura dos cães, excitados e libertos como eu em comunhão, pelas matas todas do envolta de casa e assim, num respiro profundo, profuso, desassossegado, tatear repetidas vezes a mesma oração nervosa, da repetição bendita do teu nome, que perdido na essência do que precede, não precisa da letra “fonada”, que sai pela fenda da garganta e esvoaça a pessoa. Eu desejo a pessoa, eu rumino a pessoa, eu esfrego a pessoa nos vãos torneados das minhas coxas, doridas, de tanto andar. Músculos pelas ruas, com pressa de encontrar outras gentes e vibrando pelo insucesso, para lograr a chegada quase arrombada da própria porta de casa e por fim constatar que a tua falta é o que mais alimenta, é o que mais me consome. E todo, homem?, espichando os dedos até o fim dos limites na mesma cadeira, perfurando com as pontas dos dedos os buracos da boca, das narinas da face, dos ouvidos das dobras da costela, das bocas entreabertas sedentas de nervo e razão, concomitando e rangendo loucura entre os dentes, da língua aguando e cuspindo a ilusão das primeiras secreções.
E eis que ainda, querendo não divisar o final dessa procela, vou me dando às delícias e mais dedicadas funções de me fazer fractal e sacrário, dividido e perecido parte a parte corroborada, bombeando com as plantas macias e profundamente quiromânticas, os enervados altos pomos de veias dos próprios contornos do meu sexo; admirando dele a cabeça, a fenda, o olor, o rosáceo, os pêlos, o conforto, os prenúncios de arqueada canção com a mente, os meus grãos, meus testículos, sementes, querendo do alto da testa a passagem pelo coração até a conclusão das veredas que, ele, meu pau, todo cardíaco, enfarta, enfeita, despende, ensangüenta, sedenta, amamenta, compensa, rasga, deleita, esporrando pensamento e cansaço, num pasto imenso e vasto de floradas conspirações no meu próprio peito.
Eu gozo até a altura do meu peito e lambendo lentamente do mamilo a minha própria gosma, eu descubro que o meu sexo nunca esteve disperso do meu coração.

O Pornógrafo