segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Délicatesse





Aturdido, eu sei que vi o garoto descendo pela janela do próprio quarto, não suportando mais nada do que existia dentro do quarto, dentro da casa, dentro do pardieiro n’onde vivia com o pai e com a mãe. Isso eu pensei quando passava de bonde perto daquele lugar. Mas que rapidamente saltei no próximo ponto, próxima estrada, esquina com a mansão vermelha que contrastava inteira com as casas daquele bairro, daquele barrio de marginais, daquele lugar. Eu, que sempre fui dominado pela vontade de vagar, vagabundo, buscava vagabundos, amava os vagabundos, os moribundos, também como amava os bêbados e os certinhos, os fugitivos de casa, não me trespassariam os olhos sem curiosa visão de poesia, sem vontade de saber, de ganhar. Voltei duas estradas atrás e ainda tive tempo de topar de frente com a cara lavada de sangue do rapaz. Era sangue mesmo, não era tinta vermelha de festim ou fantasia. Ele tentou me desviar, mas indolente eu, muito mais do que ele, não deixei que ele atravessasse o meu caminho, tomando cuidado para que não pisoteasse as minhas botas lustradas, agora filigranadas por leve manta de poeira de estradas. Ele bufou feito um touro pequenino, um animal acuado é mais feroz quando tem seu passo impedido, e eu o impedi, até que ele estourasse. Estourou numa palavra suja e eu ri. Não dei gargalhada que o constrangesse, apenas sorri para que ele sentisse, sem ter a pretensão ensaiada de para que ele, o meu melhor sorriso, nascido eu confesso, de uma compaixão e misturada toda, num boníssimo e incômodo reconhecimento de mim. E naquela hora eu o desejei.


__Está rindo da minha cara?_resfolega ainda possesso cuspindo a saliva de sua boca nervosa.__Se não vai fazer nada, então saia da minha frente, imbecil!
__Imbecil é você, que não percebe que estou te sorrindo!__Era de toda esta compostura de bilionésimos segundos que meu composto era todo feito.
__Está me sorrindo porque então? Guarde teus dentes de puro branco e caucásio_ele sábia falar!_ para se arreganhar a outro puto, porque eu não estou para brincadeiras!
__Reparou nos meus dentes é? Gostou da arcada do meu sorriso, então?
__Gosto de quebrá-los também se for preciso!
__Tente! Faça o mesmo que você acabou de fazer em casa, depois fuja para que eu não chame a polícia, mas ah! Melhor, não fuja novamente, não corra novamente, porque eu não chamo polícia, eu odeio polícia! Eu mesmo quebro a tua cara até você chorar ou pedir mais!

Bastou de pouco para que eu pudesse entender que os olhos dele se enchiam. Era de um mar francês que eu lembrava, dos mares da costa, meio cinzas, eram muito longe azuis, mas diafanamente cinzentos, o menino era de rara beleza maltratada.
Recuei meu passo, estratégico, nunca senhor absoluto de mim e ele me chamou para que voltasse.


__Me desculpe!
__Não me peça, quem disse que você precisa de perdão? Eu disse alguma coisa? Só não te deixei passar dragando teu caminho e te sorri, porque te achei bonito o estado, o sorriso.
__Mas eu não sorri, eu nem mostrei um dente da boca, o senhor me viu machucado.
__Mas sorriu liberdade quando pulou da janela e resfolegava os planos de para onde iria agora, depois que mandou os pais irem tomar no cú.

O peito dele suspirou tão alto feito o mesmo mar francês.

__Então, por favor, me leve para tomar alguma coisa, que o dinheiro que eu tenho é pouco e eu não sei para onde, ainda, posso ir.


Dolente e levemente arqueado eu via na tontura das palavras dele, um pedido de prazer, que viesse depois do socorro. E para quem quer me julgar, julgue, não sou de devorar desesperados. Devolvida a consciência do que sofre, o pedido quase sempre, parte deles, em si mesmos. E não, eu não sou irresistível, irresistível é a vida quando se apresenta nua, sem modelos ou condenações.


__Levo para onde quiser, mas antes limpe o sangue dessa ferida que desce da tua sobrancelha. Não sou assistente social, não sou acolhedor de menores....
__Eu não sou menor!
__Eu sei, deixa eu terminar? ... E só estou aqui parado diante de você, porque me chamou atenção! Mas também não estou aqui dizendo que você é igual a mim.
__Eu sou igual a você! Qual a diferença, porque estou sujo e espancado? Porque você tem dinheiro para me pagar um conhaque, para comer tuas putas e...
__Putos. Eu gosto do que me comover!
__Eu te comovo?


Não respondi e joguei como uma faca circense sobre o peito dele o meu lenço de algodão, enquanto ele o tomava com a destreza atenta dos que estão presentes e vívidos no aqui.

Resolvi que não era melhor estar passeando com ele naquele arredor, que era por cuidado maior, parar um carro e pedir que nos conduzisse a um lugar. Escolhi um hotel, porque ele precisava de um banho, de comida, ele precisava falar e quem sabe gritar, urrar seus gritos em lugar de descrição.
Paguei o hotel mais caro, pedi para que trouxessem roupas limpas e o deixei ir ao banho, sem ter vontade nenhuma de vê-lo despido, de admirar as supostas belezas do seu corpo, o interesse nem sempre nasce desses facilitadores em mim. Ele demorou no banho, fez o vapor invadir o quarto porque, não sendo mocinho de casa “ensaiada”, fez questão de deixar a porta aberta, caso eu quisesse entrar e começar algo que só começaria, se eu enxergasse autonomia depois de toda aquela minha vantajada e suspeitosa delicadeza.

Quem me saía do banho era outro rapaz, do que eu já havia visto dentro do mesmo rapaz, mais calmo, embora o cenho fechado ainda deflagrasse as torturas de que ainda era vitima dentro de si, dentro dos recônditos quartos sempre resguardados de sua doçura. Sim! Porque havia doçura nos traços de sua beleza, uma forte cara de quase homem, agora vestido nos pijamas do hotel, um ferimento que não parecia grande coisa n’altura do que lhe compunha a paisagem dos olhos e uma fragrância de macho, recém saída da adolescência, atravessado pelas flores do sabonete floral do quarto de banhos, nem tão bem decorado assim.


__Você quer comer alguma coisa?
__O que o senhor quiser que eu coma, eu como!


Nem respondi! Silenciei simulando desentendimento para a sua falta de cuidado, na tentativa de se mostrar solícito, embora como resultado, vulgaridade e desserviço.

__Desculpe.
__Por quê?
__Eu estou me adiantando diante dos teus gostos.
__Está sim, mas meu gosto não é nunca foi parado. Você vive disso?
__De quê?
__De oferecer teu corpo em troca de cuidados na hora do desespero?
__Não senhor.
__Não me chame de senhor! Não há necessidade, já disse que não sou assistente soci.....
__Eu já sei, eu já sei, perdão!... Antes de comer alguma coisa eu posso tomar um conhaque? Minha ferida está doendo_ se aproximou bem rente a mim_ e dizem que o álcool anestesia as dores dos ferimentos.
__Não se preocupe, eu vou deixar um dinheiro para que você passe numa farmácia e compre algumas coisas para tratar disso aí!


Durante alguns segundos, isso me bastava, eu tive a nítida sensação de saber que eu era capaz de amar àquele rapaz e eu não evitaria, porque dada a minha natureza nada platônica, também contornos de afeto nas silhuetas dele. Chamei pelo telefone o serviço de quarto e pedi para que eles me trouxessem uma garrafa de bom conhaque e algo para comer, que não consigo lembrar agora, porque eu não disse, mas isto me aconteceu já faz muito tempo, e no dia de hoje eu precisava dizer. Contar apenas.

Seu nome, não revelarei, porque não o repito nem para mim, desde o momento em que decidi que meu corpo seria relicário para o corpo dele e o dele também seria para o meu.
Conversamos durante horas, enquanto ele bebia, sorvendo da garrafa, sem nenhuma tontura maior que o depusesse desenfreio pelo alto grau etílico.
No quarto, algo de uma alegria maior se instalara nos papéis de paredes, com borboletas e gravuras de ramos que me lembravam eras. No fundo de tanto estômago e dor e marginalidades divididas, quem teve fome fui eu e sendo o primeiro a comer com as mãos, feito um andrajo comum, sem os sapatos, apenas com as roupas de baixo, porque não havia pudor no poder das minhas palavras, soltas em bandos como pássaros sempre arrulhantes e piolhentos, eu que jamais me detinha, estava livre e igual ali. Me contou toda a sua estória, era de família quase rica, tinha quase os mesmos gostos que eu, os mesmos rostos que eu, semelhando doçura e bravura e loucura nas galopadas estórias de como conhecera o mundo e de porquê, naquela tarde, resolvera se lançar depois de ter sido agredido pelo pai, pela janela de sua própria casa. E perguntei, por que, não me contive:

__E por que não pela porta da frente, se você diz que foi expulso e não te impediriam?
__Porque a janela, na estória de todas as casas, mesmo mostrando belezas quando olhamos por ela, para mim sempre representou a chance da saída e porque para mim ela, marginal.

Achei tão lindo, tão intenso e sincero que sozinhos, juntos, sem nenhum comando maior que a nossa própria vontade e nossos paus que já estavam duros, rijos, latejantes, encantados pela presença plena um do outro, nos beijamos. E de como fora o sexo, não sei nem dizer, porque os meus buracos eram as entradas da casa dele e os dele eram os precipícios para desejos meus.
E me lançando de esquecimentos maiores que me depusessem qualquer fraqueza ou necessidade de jogo, ali, naquele dia inteiro, eu amei a uma pessoa que conheci para todo o sempre e que me conhecera para assim também. Gozamos e bebemos das águas mais jaculosas e profundas, comemos e mordemos das carnes mais sãs e moribundas, numa antropofagia moderna de pessoas antigas, ermas, irmãs, iguais, ancestralizadas pelo bravio córrego de um Deus fedorento e por isso mais belo e resfolegante, subversivo, submundo, feito de todo uma abertura sem dor, que poucos conhecem, para tempos depois por medo do abismo ou consciência do abismo, quem sabe, guardar! Temos medo de Deus? Temos medo da liberdade que ele representa e o inventamos qual um mito profícuo e nada jucundo, nada alegre, nada livre, para justificar nossos medos mais ínfimos de toda soltura.

O convenci para que voltasse para casa, que entrasse pela porta da frente, mesmo amando as janelas, por onde sempre, ele poderia sair para me encontrar, e o fez durante anos, durante toda a vida! E ainda, que decidisse lá, sozinho, o que era melhor fazer da sua estória, dos seus mistérios, das suas margens, das suas decisões. Quem sabe ali não decidimos? Exatamente por nos termos vistos, tão nus e quem sabe espelhados, n’alguma aturdida diferença. E mesmo estando geográfica e completamente distintas nossas futuras horas e direções, sempre fazíamos uma ponte para nos encontrar. Ele, fugindo pela janela, da sua nova casa, das suas muitas casas e eu, sempre querendo saltar de um bonde, numa quem sabe tarde alarida, para o encontrar. Refazendo a mesma sensação, sempre primeira do dia em que sangrando eu vi nos olhos de um moleque, o amor que jamais se abateria. E jamais se abateu.


O pornógrafo

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

La lune dans les oreilles






Tomado pela lua, pelas ruas, ele caminhou até a sua casa. Do outro lado das cidades, dos rios, dos veios e trilhos que cortavam ainda a cidade ladeada de matas, cascatas de flores recém orvalhadas, envernizadas pelo gozo fino da noite, apressava seus passos para chegar até a cama, n’onde pousaria seu corpo branco de cera alva e de carregadas inquietações altaneiras, poética juvenil de moços. Deitar seu corpo vestido de nu, do preto, negro, “noir”, dos sutis cuidados de dormir, sentir da ponta dos pés até os revés dos lóbulos das orelhas, vontade sublime e sazonal de ouvir, nos abismos dos ouvidos, a voz do outro, desconhecido.
Coroar e corar com licores bentos a boca e porta da boca do seu sexo, com venturas desiguais, ancestrais, divinais, reconhecidas, desconhecendo todo o curso e o percurso feito no feitio de até então, para apenas deixar que sofismadas ainda vontades, cobrissem de lençóis de gases, ventos subliminares, delicadíssimas teias, forrassem seu corpo, num coro silencioso e intrigante de palavras entre cobertas de pureza e do extrato do pólen colhido das flores, reunindo num só ramalhete nas mãos, o caule duro e teso do próprio pau como se também fosse o pau do outro, o deixando apenas latejar como as fluências de um cio mudo e ao mesmo tempo ruidoso.

Dei para ti, nesta noite de timbradas colorações de prata, o licor desses venenos esporrados com a ponta grossa do meu carinho. Ofertei com sabedoria calada de intuições que só um homem híbrido como eu, farto de ranhuras e cansado de tantos desenganos, a minha pureza já não mais alcançada, lançando hora de escambo e troca, permitindo de mim ser novamente criança.
Pude então perceber que falando da mesma língua, tanto ele quanto eu, desejávamos a mesma língua, a que exaspera com percursos molhados e pontiagudos, o contorno inteiriço das pernas, as cavernas da boca, dos buracos do corpo. Não nos faltava razão, pelo avesso, insistente ela nos procurava em busca de justificativas, solfejando nos nossos intervalos, porquês. E para ele eu desejava dizer que nem sempre existem porquês a serem perseguidos e procurados. Quando o pessegado pomo de nossas bochechas riem sozinhas, quando as nossas linhas mais fortes de expressão da face, apenas querem cerzir das tensões, novo tecido, novo motivo, é preciso deixar e apenas ser. E fomos, por horas intermináveis, que não queríamos fim daquela noite que nunca trespassava alvorada. Não era noite do sol, apenas que nos queimasse o colchão generoso, mas era a noite toda da lua para as penas e pernas entre abertas da tarefa de deixar que o fruto em definitivo se aleitasse, se deleitasse e depois esperasse o outro dia. Não para incertezas, não para abandonos, não para os séculos de insegurança, muito menos ou contrário, não era para “carpe diem”, era para abrir a estrada, descampar o caminho e deixar seguir, com o cumprimento de beijos profundos, sem fim...


O pornógrafo

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Le miroir que Alice a pas




Quando o sol nasceu e eu já estava deitado em minha cama, despojando tudo que me sobrepujava de pesos, ainda assim meu corpo cansado de idéias, pesarosos pomos de frutas que me enfastiavam, pesando sobremaneira o estômago aflito das emoções, pensei em levantar do jeito que estava, caminhar até o lavatório rosado e vomitar.
Vomitaria sem medo de esgoelar os anéis curtidos da garganta as águas todas, tolas, que de mim insistissem em permanecer, estar, como verbo apenas de passagem, que não liga, que não move, que não acrescenta, que não levanta vôos e nem alça lençóis para velejo. E o que vejo, é que este homem assim como eu sou, também tem suas usuras, suas tonturas, seus perdidos pontos de eixo, mas não costuma tanto falar, pelo menos no tom lagrimoso dos pastoris, dos cantores de outrora castrados. Não sou castrado! Nada me castra! Meus colhões são, sobretudo, mornos e quando esquenta a cabeça em conjunção maior com a lua, torrentes pêlos de aloirados vermelhos o queimam e fazem doer, a boa dor do gozo. Sempre gozo, mesmo que acometido de alguma dor.
Vi de mim, do mesmo alto desta cama, o corpo jogado, num abandono, que não pretendo classificar se bom ou mau, porque não sou filho das igrejas e muito menos dos ortodoxos conceitos desses julgamentos. Apenas me vi e me constatei.
A casa vazia, jamais abandonada, deixava nos entres dos espaços e cortinas o meu cheiro, assomado ao muitos cheiros dos tantos fundidos em mim, dos tantos perpetrados, penetrados, dos meus amores e paixões. Era um alarido só, correndo na balsa de ar e vento e silêncio, silêncio, silêncio... Um fragor de inocência correndo pela casa do pornógrafo, como uma criança de cabeça dourada, nua, peste, alegrada pelos arrulhados passarinhos piolhentos do quintal. Encantado com os diamantes de poeiras, qual tumbas de um imenso organeto de catedral e apenas uma janela quebrada, dando alegria ao chão melado de indecências do dia, que ainda deixava suas gosmas tímidas pelo chão da casa.
Era dia de vibrar, de sentir cada poro, de ouvir Maria Callas, “La mama morta” avivando com uivos de pomba, de coruja, de loba traiçoeira, brega, empertigada, de nobreza fedendo sudorípara debaixo dos panos de seda. Era dia de levantar da cama com as dobras do corpo nu, cheirando a tudo que os dias reuniram. Era dia de mansuetude e verbo galopante, peito suspirando, compasso, vão. E erguendo a imensa altura deste corpo meu, sussurrando a pele do meu saco, das minhas bolas protegidas pela pele dos pêlos bravios e longos do meu escroto, eu, que jamais deixaria fugir um só aviso de desejo, pude sentir que de dentro do meu corpo, às minhas pernas, as minhas coxas, o restante inteiro dos meus membros davam bom dia. E me tocando, caminhando de entre abertos dedos marginais pelo solo da casa empoeirada, procurei da sala o carpete mais surrado, mais cheio das marcas dos pés dos visitantes, para os arreganhar num arco inteiro magistral. Quem me visse debaixo, debalde, vacilante, esfregando, com as mãos também gigantes o corpo todo, o peito, o tecido das mãos, as costas das mãos, encontrando na agilidade dos dedos, ajuntados gravetos, que mais estreitados, toras, mastros imaginários que eu chuparia com sabor e sapiência, com pedidos de clemência enviados ao oco do dentro do meu próprio mundo, num segundo, quem me visse do alto de toda esta estrutura, com certeza me diria: __ Esporra, pornógrafo! Explode porra, plasma e leite dentro da minha boca! _ eu sei que eu deitado ali, me diria! E ri, num soslaio de vento guardado no interior da boca. E como uma fruta que se esmaga até o sulco do próprio pomo, fiz de mim nesta toda boa fissura. E se eu pudesse! Ah, seu pudesse! Adoraria nesta hora célebre, divina, ser como os admiráveis contorcionistas dos circos mais pobres, ricos na sua infinita e grandiosa lona furada, suscetível de verdadeiras estrelas e também chuvas, para beber das minhas próprias águas tempestivas. Mas apenas deixei que a minha imagem refletida por mim mesmo, tão generoso, apenas fosse minha, somente meu, o espelho dessa mente amanhecida, no chão do meu carpete empoeirado, até que a fruta perdesse seu contorno, sua pressão tremulada na tensão até gozar, gozar, gozar.
Chorei, sem nenhuma melancolia, ameaçando levar à boca os meus gostos, meus constatados sabores, mas apenas, os esfreguei com carinho de benção, no bico dos meus mamilos de macho duro, dobrado agora em inspiração para dentro agraciada, depois por metade do meu rosto. E calmo, sem pressa, como um felino, tão inteiro e desconstruído, como um menino, caminhei para a minha bacia de banhos.

O pornógrafo

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Les infirmières de Paris




Eu sou o almofadinha das meias sujas, das cuecas rasgadas, do corpo floral, de cheiros madrigais e de fustigadas e odoradas entradas de pêlos, com perfume ocre e intrigante de virilha. Eu sou o corpo e sou a trilha de incansáveis, perpétuos socorros. Nossa Mãe que nos proteja, da desgraça de nada sentir, porque da necessidade pressuposta de ser emparelhado em fila de bem sucedidos! Bem suceder, para mim, nestes dias, seria comer o teu cu, o teu corpo, teus buracos, tuas entranhas; primeiro, com a língua, depois com a massa de tora e de nervos do corpo do ventre baixo. Alteado em misericórdia e tontura, uma vontade tanta, imensa, como uma elegia, uma alegria de ouvir o teu gemer.
...
Desci correndo as escadarias do prédio de altíssimo azul, de elegantíssimos brocados, de esguia construção, mesmo sendo céu, ele, o prédio, não tinha a pretensão de chegar aos limbos e muito menos eu. Cheguei esbaforido feito um cavalo, suando os meus melhores ternos, querido e possuído de vontade em mim mesmo, de vagar as ruelas da cidade intransferível e bela de Paris, dos anos cinqüenta, ainda conservada em magenta, coloridos mortos, ancestrais trespassados tortos que por ali passaram e passavam assim como eu. E ao chegar ao chão de pequenos trilhos e contornos, estendi o braço forte para o trem e pedi passagem a alguns senhores fedorentos que estavam perturbando meu caminho, o meu dia e minha entrada. Em seguida, procurei com os olhos, com os ovos e os colhões, daquele enfileirado de cadeiras mal asseadas o melhor lugar para poder me assentar. Nenhum lugar, apenas um jovenzinho, enfermeiro todo vestido de branco, com um pequeno detalhe azul no brasão que lho compunha o uniforme de trabalho. Sua cara, de antipatia e sombrancenlhas torneadas de uma apuro, de um cuidado rubor que eu seria capaz de dizer de seu sonho, vestir do baú da mãe no quarto mais vazio da casa, enquanto todos dormiam, o mais lindo e torneado traje de festa e cantar, segurando com fervor e selvageria, o vidro peniano de perfume, que também lhe serviria de consolo, de prazer e desarvoro, nas horas em que se acocorava em cima da cama fofa, para dizer : “__Vinde a mim, mon garçon! Me enterra esta tora até os confins do intestino moço! Vinde a mim!”_ quase bíblico e sacrossanto, como um punhal devassando flanco carne a dentro, no buraco perfumado do seu anus de não mais menino. Adolescente? Talvez, pois que o trabalho em tudo o compunha.
Caminhei mais três filas e me depus corpo inteiro também azul meu terno como o prédio, sem pressa alguma de subir , encostando o meu corpo, metade das pernas e subida do tronco, no seu ombro esquerdo. Simulando, desequilíbrios pelos solavancos do trem, eu me deixava cair cada vez mais, à medida que o sentia pressionar, impressionado com a leitura de um livro de poemas de Santo Agostinho, rapidamente retirado da sua bolsa de couro escuro de fivela arrebentada. Eu odiava Santo Agostinho, mas não me interessava agora, que este saber me fosse interrupção, já que me era ponte sublime, vadia e subliminar para que eu fosse esfregando, pouco a pouco o meu pau no jovenzinho enfermeiro! Tão lindo, de sobrancelhas alteadas, sofismando vontades pelas leituras e sorrisos incapazes de rirem até o fim da boca, pela minha atitude de homem criado, malcriado, grisalho, embora senhor das idades e sempre juvenil.
A velha ao seu lado,se levantou dando lugar para que eu sentasse, mas fiquei de pé, permaneci ali, parado, teso, cheio de uma ereção bombeada do mais puro sangue, cavalo de mais puro sangue , eu sagitário, esperei, pacientemente em meu galope que ele, o menino, me ofertasse o lugar vago, e quem sabe, também os buracos do próprio corpo, os olhos virados para cima qual santo flechado tão sexy, São Sebastião! Ou da própria Santa contemporânea tão perto de nós pelos anos, Teresa de Lisieux e seu olhar pequenino de amplidão e doçura_ e assim o fez “__Senhor, pode assentar-se, o lugar está vago.” Mansidando meu corpo, escorregando lentamente o linho de casimira, das minhas calças de botões dourados, quase estourando pelo relevo dessas emoções de sangue, que só o homem pode compreender vivo em si mesmo, dentro dos próprios calções, das próprias canções veridianas, dissimuladas, me conduzi ainda de frente, oferecendo a fronte e todo o curso de minha altura, primeiramente os meus olhos e para depois, em fim, me depositar pesaroso e macho ao lado dele, moçinha.
Não apelei para nenhum truque. Não encostei a coxa nem abri com largura de covas as pernas, não suspirei alto, não tossi, não fiz de nada do que é fácil para o que se compreende sedução, à todo embaço e embaraço, desses caçadores vulgares de trepadas e gozadas furtivas . Também não me fiz príncipe.Não era príncipe; era o corpo sujo do suor do dia, dentro das roupas de carinho amassado pelos atropelos e esbarros das horas.Era o corpo nu quem dizia o que fazer, sem ao menos me datar, obrigar ou dizer com fome de nenhum grito, o que eu naturalmente deveria fazer. Porque eu deveria daquela hora, alguma coisa fazer. Isso estava certo. Era certo. Principalmente pelo pedido daqueles instantes, desde o tropel dos meus passos largos na escada; desde o burburinho falastrão dos homens e mulheres no trem que não era de carga, mas era pesado e cheio de invirtudes, tão visíveis perturbações passeando na cidade velha ou seguindo suas denominadas direções. Percebi no pescoço torcido, as ruas que não me diziam mais nada, as árvores próprias e copadas de floradas estações de primavera, que mesmo eu, virado em contrário, tinha o corpo prostrado em oferecimento nada sutil ao que dos olhos saltava das letras, o desinteresse pelas palavras chatas de Santo Agostinho, para o meu pau duro e flamejante, pulsante, elegante, a tora se movia enquanto o menino, suspirando, taquicardia e busca rápida de atitudes na sua bolsa, guardando mais que depressa sua encadernação velhaca do Santo, agora desinteressante, como também o era para mim. Mais do que nunca éramos comuns. Vontade em comum, desejo em comum, somente um dedo dobrado, não ainda em riste tocando o meu ombro, para me indagar:
__O senhor, me perdoe, mas poderia me dizer as horas?
__Não tenho as horas, tenho todo o tempo do mundo, tem muito tempo que não uso mais relógios! _ frase de efeito, mas nascida de umas rebarbas de poesia, ele precisa sorrir para mim.
E sorriu.
__Me desculpe! Eu perdi o meu, relógio! E agora vivo assim, sem saber ao certo a hora para onde vou!
__Isso, não me parece tão ruim! Eu pelo menos já não tenho tanto tempo para correr. Longe de mim dramatizar. É que sou mesmo um desocupado, não estando mais nas mãos do trabalho, ele é que está em minhas mãos, compreende?
__Creio que sim! Mas é que para mim, ainda não há tanto passeio.
__Meu passeio é meu trabalho, trabalha comigo hoje então?
__Acabei de chegar de um plantão de estudos, ainda não sou formado, mas quero ser médico. Por enquanto sou apenas um enfermeiro_ e vulgar_ o senhor tem algum ferimento que eu possa tratar?
__Tenho aqui, na altura do ventre um fato no mínimo interessante, que acontece comigo desde que tinha uns sete anos, mas que até hoje me assusta quando acontece, posto que sempre me parece a primeira vez.
__Tenha o senhor certeza de que eu o percebi.
__É que toda a vez que vejo um moço, lindo e frugal como você, ele cresce, se enche numa aceleração natural e como uma fruta de vez, amadurece, fica duro, lateja, sabe como é? Sente vontade de se meter corpo a dentro, como elemento ajuntado, somado ao corpo de figuras que precisam dele. E é quase incontrolável doutor!__Interrompido por ele.
__Ainda não sou doutor, apenas um enfermeiro!
__Mas que já me parece saber muito das coisas. Não é?
__Sei sim, que daqui há duas quadras de árvores seguintes irei saltar desse trem...
__E me levará consigo!
Se levantou dado de uma só vez, lerdeando seus passos, como um potro que esmaga com doçuras femininas e cuidados,a terra para não esmagar os pés dos fedorentos e ficou me esperando, na altura em que o bonde permitia saltar. Somente nessa hora me levanto, deixando que o azul dos meus contornos faça sombra e reverbere no calor do meu assento fundido ao da velha de rabo gigante; o que muito me aqueceu de doenças e corroborações. Saltei do trem uns dois tempos depois do seu pulo e caminhei sem dizer palavra, até que ele parasse enfiando a chave de bronze velho na fechadura da porta negra e imensa. Casa nobre, de fachada elegante, porta aberta, tapete vermelho, imenso e empoeirado, empregados ao corredor, pais sentados à mesa e nenhum incômodo da parte do enfermeirinho.
__Papa, Maman, este é o meu professor de inglês. O senhor professor deseja comer alguma coisa agora?
Sem nenhum susto, apenas mais ainda excitado respondo.
__Agora não, quem sabe daqui a pouco...
__Então vamos? Para o meu quarto, lá me concentro melhor. _Tinha o incrível dom de dissimular, de parecer natural como um ator inglês, sem nenhuma afetação ou tremor que o depusesse contrariedade ao verbo, me oferecia dos seus braços longilíneos a mão e o caminho, o endereço certo do seu corpo, do seu quarto. Era sem embaraço, sem perturbações maiores que o deflagrassem qualquer possibilidade de escôo ou fuga. Ele queria e eu também, para isso era preciso cumprir, fazer, armar e dar condições. Chegando ao quarto, depois de percorrer as escadas do fundo do corredor, uma porta entre aberta e cheia de livros sobre a cama. Quarto de menino, de educando e eu era o educador?
__Feche a porta, por favor! Mas não passe o trinco da chave!
__Como você quiser.
__Quero examinar o que te intriga, coloque para fora da calça para que eu possa ver.
__Se quiser posso retirar a calça toda. Acho que sem essas roupas pesadas você poderá ter melhor condição de saber do todo.
E me ajudando, primeiro arriou as minhas calças como se fosse dono do meu corpo ou cumprisse a função de pai que todos os médicos acabam sendo, sem pretender. Celebrando frieza e olhos fixos, deixou que ainda permanecesse a cueca, a mais velha, a mais suja, a mais amarelada. Por debaixo de tanta pompa, rasava as mãos compenetrado por baixo das minhas pernas, apalpando com força minha virilha, meus lados, meu escroto, minha bunda, quase num abraço, solene. Inventando nova medicina, abraçava o meu corpo discorrendo todo o braço até que a face ficasse suprimida , boca e narinas dilatando os cheiros e a salivada gosma de hálito quente, como o verniz de uma romã em viço, enquanto eu, apenas deixava que eu fosse o seu brinquedo, sua religião, sua ciência. Desatando os braços do amplexo da cintura, querendo nu todo o meu pau e sua estrutura de veias e perfumes rosáceos. Íngreme, abriu todo o anelado da boca de carne e primeiro o supôs , para somente depois fazer intenção de o engolir, e por fim o colocar, como diabrete faminto, como um bezerro desmamado no inteiriço da caverna do palato, os dentes cuidando para não bater e a língua tremulante das esperanças francesas. Chupando como animal desavisado dos adestramentos, era ele mais faminto que eu, oferecendo comida a um desavergonhado luxuoso de tecidos azuis, enquanto por baixo se guardava numa cueca suja, gozada ainda do corpo de outra puta, cantora, atriz, senhora de um cabaré, n’onde provavelmente ele nunca cantaria.
Dessa trindade de olores, vi quando no lânguido dos seus ombros e da dobradura do seu abdome, ele me pedia, já sem forças, domínio. Dominar seu corpo científico de menino quase doutor, para lançado em cima da cama, no meio dos livros de religião e anatomia, retirando da boca para colocar no buraco agora sim, premiado, até que ele gozasse o fenômeno dos seus leites, enquanto tinha dentro, não um vidro de perfume, até dizer trincando os dentes, desarrumando os cabelos dos penteados de passeio: “Vinde a mim, mon garçon! Vinde a mim!”

O pornógrafo

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Le temps de sauvages noirs



Os cães uivaram no mata e a porta da cozinha sempre aberta, junto com eles, seu grito de aviso que estava por chegar. As portas da minha casa sempre ficam abertas para os cães, os estimo, mas nunca os faço de “estimação”. Desta animosa feitura que os homens compõem como carinho e cuidado, para ter dentro de suas casas, no seu presumido cuidado e zelo; meus animais são libertos, livres como eu sou também, não me quero donos deles, nem muito menos donos de mim, numa fastidiosa e consumida relação de precárias côrtes e desejos cobrados, nunca cumpridos.
Os cães uivaram na mata que dava para a porta da cozinha, as vidraças quebradas, deixando rombos antigos de pedradas altaneiras de meninos, recém descobertos, punheteiros envergonhados de si, querendo e precisando demarcar suas fúrias e vontades molestadas em si mesmas, pelas culpas e segregadas ações, muito primeiramente atávicas, munidas de uma educação que não me compete aqui discutir_ não sou pedagogo! Não sou professor! Não sou o que os títulos enobrecem! E muito pior interessa a tarefa de ser pai desses meninos, que rompem a mata de volta à suas casas, cuspindo insistentemente nos caminhos e trilhas, nunca escondidas, mas cheia de mistérios bons, da salivada boca do gosto do meu pau, a desmesura que em poucas horas antecedidas, a eles próprios, era de todo prazer.
Os cães uivaram e ele gritou seu uivo junto com eles, posto que sua feitura fosse toda, de arrimados músculos não mais adolescentes, embora de púberes cortes, fosse todo o entalhe do seu corpo nu. Não me acometia nenhum susto, fui batizado nas igrejas mais pagãs e tortas pelos pais mais certos e convencidos de que, talvez, eu viesse a ser a riqueza da família. Enriqueci, todo amparado por coléricas profissões que não me convém aqui dizer, não me interessam também estes nomes, estes títulos, vá que eu possa ser um médico, um doutor, o cardiologista da sua família ou quem sabe um renomado figurão de encarregados postulados civis?! Deixa então que eu gargalhe, porque nenhuma dessas é a minha profissão, não sou nenhum novo rico, sou apenas pornógrafo, sou apenas a pena de mim mesmo e dos que me fogem com medo de depois da festa de pequeninas luzes e intenções.
Preciso tomar um banho e não paro por nada minhas arraigadas e arrogantes minúcias, para receber ninguém, por isso deixo sempre a porta aberta, correndo sim, eu sei, o larápio risco dos ladrões e malfeitores, que não me conhecem sequer a capacidade de ser maldito, de ser esperto ou medroso; do medo, só sei quando me deparo emocionalmente com ele, porque do físico nada mais me atormenta nos tempos infernais de hoje.
Disponho de certeza quando sinto o cheiro do presente corpo acalmando antes aos cães e enquanto dispo parte a parte das minhas roupas, imagino que ele está de quatro, porque tem o dom de estar, assim como eles, latindo ou rosnando, palavração sublime e endomoniada de uma invejável soltura e beleza, quando a espinha se distende numa curva e sinuosa estrada para dar vantagem as suas ancas, já por mim constatadas e me excito. Nessa hora sei quem vem. Quem entra a porta da cozinha abrindo primeiro sem rudeza nenhuma, sabendo já não mais me fazer surpresa alguma, para ganhar, descalço, pés de negro que se confundem com as rachaduras da terra, até chegar a porta do meu banheiro e me dizer:
__Senhor, posso entrar?
__Na banheira?_ e porque de mim nascera bom sorriso, a cabeça do meu pau em eriço, esquentando cada vez mais doçuras, levemente produzindo verniz de suntuosas doçuras dentro da água de banho_ Mas primeiro lave os pés, que você assim me faz achar que estamos num rio e quero você primeiro em condição igual a minha! Porque não me chegaras antes? Assim era corpo sujo, dado a corpo sujo, cheiro azedo, dado a corpo azedo, ao copo da boca, sem as frescuras do perfume de flor e cinza dos sabonetes lustrosos! Por quê?
Lavou, mas que rápido os pés na pia rosa do banheiro e eu ainda disse para que tomasse cuidado para não escorregar no chão que ficaria molhado, para que não batesse ou debatesse a cabeça no azulejo frio sem motivo que a ele fosse bom. E porque a água estava quente e nem um frio lá fora, para ele sem camisa, apenas com as calças do trabalho, quase estivador, não fez pressa em me perguntar quase servil, se preferia que ele próprio tirasse o restante da roupa ou se eu o preferia fazer, emprestando “levítica” doçura de ritos primaveris e sempre constantes na anunciação do que para ele já seria sexo.
__Deposita primeiro o pé, um de cada vez, para sentir que no fundo do rio já existe um corpo, felicitado._ Eu ri!_ Porque hoje ele também quer o corpo teu. Depois com o outro pé, busca na banheira uma parte que te dê segurança e escolhe o ângulo certo para assentar tuas ancas sobre esta parte que é toda tua nesta hora! Faz assim, de um jeito sacramentado, faz que eu ficarei feliz!
__Gosto de ver o senhor sorrindo, gosto! Gosto tanto, sabia?
__Não sabia não! Você nunca me disse, mas pode dizer isso enquanto senta, diz! Diz então que gosta de me ver sorrindo e me empresta a tua paz enquanto senta e gorjeia teus lamentos e cânticos profanos, santos do mato te trouxeram aqui eu sei! Demônios da mata de soslaio te fizeram lembrar de mim neste fim de tarde fria.
__Mas não estava frio lá fora senhor! Eu estava no chão com os cavalos, corri pelos campos, brinquei com as crianças e depois resolvi que queria vir aqui para brincar com o senhor, que sempre é bom de um todo para mim! Amo o senhor sabia?
__Acho que sim, porque também sinto amor quando vejo que você vem de bom grado a minha casa, que você não se prende em amarras e nem deixa de ser para as outras pessoas, para as tuas meninas, tuas promessas de casamento, sem jamais me esquecer! E me desculpe se pareço pretensioso!_Enrubesci de mentiras e verdades cruzadas dentro de mim, porque sou feito de prazer também igual, quando encontro alma justa, que me mereça.
__Não tem que ter dúvida disso não, não senhor!Não te dou motivos para isso, dou?
__Dá, para mim, somente agora, o que me quiseres dar e daí eu terei certeza! E não faz muito tempo nas paragens nessa minha elegia de pequenas e falsas aras, porque eu quero mesmo é que sentes todo no que você tanto gosta de sentir entrando em ti. Dá?
E feito dessa tonsura, dessa tontura, ele que era corajoso e decidido, vinha macio e franzido o cenho, a testa, o pescoço revirando o imenso pomo de Adão para trás, pelos músculos também muito bons de morder, do seu pescoço de negro moço, enquanto encaixava sem nenhum problema de transformar a pequena dor em prazer, em momentos esparsos e dançantes, como o lundu de tribos antigas, como o aluno se dava ao professor na esperança de jorrada sabedoria dentro de si. E meus cabelos eram tocados por suas mãos toscas, grossas, meigas de calos e de esporas, eram puxados meus cabelos e o centro do meu corpo, o meu ventre e meu peito para junto de si, para a sua boca de carne negra e gorda, lábio gordo, encharcado da pólvora da poeira dos cascos de um cavalo de tropel nada macio, resfolegado e febril. Vibrante e febril, trêmulo e jamais cansado de galopar e correr as matas viris do meu colo branco, minha virilha de algas flutuantes. E como era bom, eu preciso dizer! Como era bom me sentir amado sem pressa, sem mesclas de covardia ou medo, porque quem tem a boca cheia de fogo ou queima a língua ou cospe fogo! Ou teima á míngua ou faz o jogo certo de sua natureza, toda própria de obediências boas, sem pecado! Sem o peso cristão do pecado, ele era meu e eu era dele, sem nenhum medo ou sino que nos depusesse segredo ruim! Porque quando eu entrava nele, tenho certeza que os dois, dávamos bela, a presença e a certeza da companhia de Deus entre nossos orgasmos e mágoas da vida, trespassada, pela excelência grandiosa de não termos razão para fugir de nada e que àquela hora, era somente nossa e de Deus, espalhado na figura de mil outros deuses e cães e bichos todos outros espalhados no alarido misterioso da mata, da floresta de todo o mundo.
Ele, talvez tenha sido até hoje o único homem para quem eu tenha me dado em constância de tranqüilidades e nenhuma grande necessidade de placebos. O meu verbo era feito no silêncio e sem nenhuma escola de maestria, porque ele era todo bicho, era capaz de ouvir. Assim como os cães libertos soltos, do mato, que protegem e governam a mata e por generosidade, também os arredores de minha casa.

O pornógrafo

quarta-feira, 8 de junho de 2011

L'agneau blanc d'un millier de soleils!



Para L.

Descia sobre os seus olhos uma enorme fenda, uma desobediente e inescrupulosa luz de manhã. Da luz das manhãs os trigais serão sempre dourados e belos, resfolegando a teia doce da pele, uníssona e coberta apenas pelos trigais menores, se amontoando em doce conversação em volta da boca, do sorriso primeiro, as pratas de marfim tão branco! Quando se fecham, são protegidos por carne rosada de aurora, como o rubor das putas, os carmins das francesas e jovens travestidas de santas, pagãs, os lábios são de suntuosa doçura, podendo esconder entre as lápides dos dentes afiados, parecendo de leite, o pão e o leite que fustiga a palavra que se esconde e se revela e se mastiga para depois cuspir quase nunca de uma só vez! Ainda sobre o leite, a mão e os dedos longos eu logo pude sentir na hora da primeira saudação! Os braços, grandes, a generosidade sem tamanho, no minuto do abraço. Anacrônico, nem pude contar seu tempo! Posto que fosse certo em toda a minha boa bruxaria, que o tempo era enguia, revirando-se jocosa por dentro em antepasto de reconhecimento.
O cordeiro, de cordial, de animal comido e preparado com ervas em festas de fartos ciganos como eu, nunca passaria despercebido à minha fome! Nunca!Em jamais tempo algum, uma elevada estrutura de arrimo e cuidado, sofismando resguardos, passeando nudez, por debaixo e por entre os pêlos, jamais! Eu disse, jamais! Deixaria meu zelo descuidado dos minutos.
Era simpatia, trespassada de algum desarvorado medo, o meu segredo estendendo côrte e levantando as calças como a floração nada inocente dos trigais, dos milharais pontudos. Da polegada do meu sexo, bombeando sangue e completando centímetros de beleza, uma doce tora estendida para colocada bandeira de anunciação. E eu nem me sentiria vulgar, dizendo assim, deste modo, sabendo que meu corpo é santuário e que o dele era mais bento que os ungüentos cuspidos pela língua, na hora intencionada de adentrar. Eu sou erótico, mas não sou fácil! Não são de fácil compreensão os meus escritos, os meus arroubos e os meus gritos, minha mudança de voz e prosódia quando a língua se entorta em chegada dos vozerios de cima, quando a conversação invade o meu corpo num “espanhol” proscrito em minha mente, eu não sou fácil! Eu não sou fácil nem para mim, mesmo! Eu não sou fácil!
E se dizer ao cordeiro é receber indiferença redobrada em retorno, o caminho tortuoso que ele faz com relativo “prazer” entre os prados e montanhas para ser encontrado pelo pastor! Eu faço o caminho, eu grito nas encostas e matas e estradas e nos eitos de grama, já acocorada pela noite, eu grito! Não tenho por que, postergar a afirmação do que para mim fora beleza. Do que me fora fome e desejo. Mas faço tudo isso, com a consciência redargüida de toda a sua natureza, de toda a sua possibilidade de “inação”, de silêncio como esmero e cuidado. Mas de mim não precisa cuidar! Pelo menos, desse modo!

O cordeiro fala, fala doce, fala à voz que seu corpo anunciaria antes mesmo de vocalizar, porque nele quase tudo é harmônico, até a sua empáfia, a sua esnobe e ressentida forma de chamar atenção, distendendo seus músculos e todo a estrutura do espírito em silêncio de bolha, meticuloso, seletivo, virado de costas ele quer mesmo é estar de frente porque odeia o que é fácil, mas também odeia a rejeição da dificuldade! E isso tudo é lindo e me excita pelo meu respeito e sagração constante a natureza. Adoro o corpo frêmito dos animais nervosos! E os cordeiros não são menos selvagens quando se sentem enraivados.
Certa feita, no meio de uma festa, depois de “quase” me negar os olhos, passeando por todos os outros animais, o cordeiro se deitou no chão e fez questão de esticar o corpo todo para que o seu membro fosse visto nervoso, ereto, prometido para logo em seguida quem sabe, muito provavelmente ser negado.
Mas o que eu, um homem sujo e estampado de luxúrias e torpores na pele dos olhos posso dizer? Que eu, pequeno estorvo, medalhão de cafonices e ouros turvos posso dizer, senão que a minha safadeza é sim, a minha cara, mas que a doçura também lambuzaria de mel, nos mais ciprestes agridoces a comida toda do seu corpo, todo branco, todo manto de lençóis delicadamente arrumados na hora da visita, da minha visita ao seu quarto que ainda não aconteceu?
Pois, bem, abrasada a festa tinha também fogueiras e festejos maiores, mas eu me alimentei de pão sírio e de águas sevadas, as que semelhavam os suores das tuas axilas em trabalho, dos teus sabores por mim supostos, numa adocicada e severa condição de amargor, porque tu és todo lindo e dos teus olhos, qualquer palavra seria bendita, se tu sorrisses bem, mas bem no canto da boca! Não precisando, por suntuosa jogatina de naturais posições, que tu revelasses o branco tolo dos teus dentes semelhando ainda os de criança. E tua criança, seria deitada, provavelmente, primeiro sem nenhum tom maior de afetação no ruidoso rosnado do meu colo, do meu solo e quem sabe depois minhas ereções abusadas, desprendidamente despreocupadas do teu julgamento, depois que deposta a primeira entrega. Eu te mostraria como se faz para crescer mesmo sendo linda e louvada a infância, de redescobertas. Assim, imenso, do teu tamanho de homem, solfejando quase tristonho, porque triste e admitido, nunca! O cordeiro é vaidoso, eu tosaria peça a peça de tuas roupagens tão belas de vestir e fazer notória tua beleza, tua pele, teus olhos ermos de uma secreta e contraditória nudez branca e não sei porque latina_ porque também há cordeiros na Espanha, na Argentina, nos Andes, nos madrigais de toda América latina_ que para ser homem nos braços de outro homem, basta apenas se permitir depois de “velho”, doutorado e feito, pela vida, pelas rasuras do tempo, apenas ser niño, menino, ciranda, criança e te faria gozar, com amor, do leite que deleite já deveras há em teus colhões! Porque todo cordeiro é santo, como também é manto de carnes avermelhadas nas presas da boca faminta dos felinos, das raposas, dos contentes sanguinários ciganos tristes como eu.
Mas teu silêncio é longo e “indiferente” como eu já pressupunha, tua memória é peixe como eu já eu me depunha em confissão de sofrimento e negação a esta carne ilesa e difícil dos anzóis, tua certeza é incerta, posto que teu natural realejo esteja nessas danças mudas, mas mesmo amando o silêncio, eu sou amante dos gritos, das caras feias e expressivas, das dores e doces sofreguidões dos penetrados, dos perpetrados na luxúria dos buracos rosados, negros, nada secretos; mas teu corpo é etéreo e batizado é redimido e treinado para a negação. É hóstia jamais sofrida, que minha língua não pode comer. Esta ilusão não me é permitida, vulpe e adorador das carnes vermelhas, fico de longe contente apenas nas lembranças do teu sangue no rosto, como rubor.
Se eu te pretendi?Mas é claro que sim e talvez, eu disse talvez! Sem a pretensão de horas ou permanências, sem prisões ou decências, sem torturas ou imposições! Eu sou indecente, despudorado, sou de palavras febris e lagrimado, sou, redundante, desavisado, sou passional demais para você! Mas longe de mim sentir auto-piedade! Isto não é nem de longe uma carta de amor, para alguém que de distante, fugiu de medo? por não corresponder amor sequer experimentado, por mim, nem exigido. Eu sou potente e audacioso demais para depois da festa me enlear de auto-comiseração! Eu te respeito demais para sentir pena de mim! Eu quero gargalhar teu sorriso e te dizer apenas, que sem penas, nem houve tempo para expectativas ou lamentações e que o meu pau sempre suba, rendendo glórias ao teu corpo santo quando ele passar, quantas vezes ele quiser passar, passear, se perder ou sangrar pelas minhas trilhas de altas e ingrimes vertigens montanhosas! Para simplificar, toda vez que eu sentir tudo isso, te facilitarei, bebendo de ti um copo, um pouco, um corpo inteiro d’água, porque água na minha boca é vinho e o meu carinho bruto, nos altos frontispícios do arrimo de calças, para isto sou fácil! tu vais avistar! Uma ereção e todo o leite dessa tora “maldita”, rendida até os meus pés mais bizantinos e sacro-santos, esta baba leitosa e benta em homenagem desvelada somente a ti! Estamos acertados, cordeiro?... Agora, corre pelos prados que a ti impuserem fome, que te derem nome. Tua imagem, jamais, será esquecida! Por ti eu sempre hei de gozar!

O pornógrafo

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Parce qu'elle m'aime à l'os



...

Dei-te do meu cheiro fumarento às tuas entranhas, todos meus desejos, minhas rusgas, minhas rugas, minhas mãos, do meu sexo invertebrado quando contorcia qual serpente em nossa cama de silêncios, bravios, tão bravios córregos de um olhar tão pairado. Fascinando-se no ar, as bravuras desses braços que tocando em própria misericórdia, no clamor, no pedido, no eriço dos nossos pêlos mais íntimos, o som penetrado dos regatos, resgato a essência e o azedume olorado, que consome...
Dei-te as minhas mãos, enquanto tocando o próprio corpo, o meu corpo que era teu, tua casa, teu santuário, teu eito simples sem descampados, de doces pomos e frutos, pedia a cabeça dessa tora, desse tronco que espremesse por natureza, na despreocupada e aturdida repetição, grunhidos cânticos ancestrais, que por milhares de anos, homens iguais a nós dois, chorariam pela boca dessa fenda,dessa luta, desse pomo, o azeviche desse estrondo, numa cascata de leite, o deleite do nosso gozo até o fim, sem sono. Porque ele me ama até os ossos!

O pornógrafo

domingo, 8 de maio de 2011

La demande des trous ou des pédérastes Dos avenir




__O que você aprendeu não é sexo, é estupidez! Não começa nessas profundezas, nessas tarântulas sem veneno que são as tuas mãos! Isso, não é sexo, é estupidez, pura estupidez e necessidade sem noção, sem bom senso, sem tamanho apenas para tentar se definir!
Dito isto e me levantei de uma só vez da cama. Fiz silencio acendendo uma vela azul, que chegara com um móvel velho de decoração, desde 1930,35 e eu nunca a havia acendido, porque para mim não existia razão, não existia fé, nem suplício que desgovernasse a sagração da dobra dos meus joelhos, muitas vezes estourados, nos carpetes e chãos ásperos, duros, sujos, carpetes sem doçuras do felpudo, contrabandeados, baratos, de lugares mais baratos ainda_ Você pode imaginar de que lugares eu estou falando! Ah pode! Quero gargalhar, posso?...
Pois então, acendi a vela azul diante de um Cristo albino, menos estúpido e nu, todo vestido de um branco, sem “couleur” alguma, para apenas solapar naquela criatura tão “zinha”, niña, alguma espécie de silêncio, de introspectiva reflexão. E, para não confundi-lo, porque não me bastaria apenas falar de coisas simples e claras, retirei detrás do imenso Buda, que resguardava as fotos de “pinups” e putas de minha mãe, uma garrafa carregada de um velho whisky_ mais velho que a minha avó já morta.

__Bebe! Mas não bebe tudo porque no fim de nossa conversa, sempre haverá o risco de querermos mais um gole!
Só então ele me disse:
__Nós vamos conversar?
__Nós vamos começar de novo e sem nenhuma pressa e você vai me dizer se quer que seja assim, tão desprezível, sem nenhum sentir. Então bebe este malte rasgado! Esgarçando-se a si e a própria alma e a própria garganta em pedaços, mamando num só regalo, para depois, me dizer como se fora no começo, qual é o seu nome. Qual é mesmo o seu nome?
__Patrick...
E ficou quieto, vendo-se que não tinha costume de tanto amargor e azedume na própria boca.
__Patrick?_apenas fitei mais fundo_ E com um nome tão lindo, tão feminino, tão mocinha desses! Inventou na sua cabeça de que porque eu tenha aberto ás minhas portas de casa para ti, abriria também assim, de uma só vez também, aos meus buracos, minha garganta, minha goela, meus orifícios, só porque precisa provar a si mesmo e à mãe e ao pai, super intendente da marinha, que és macho?! E que não te virarás em pederasta num amanhã sombrio?!... E o que tu sabes da vida rapaz? O quê? Sua bichinha medrosa! Atormentada e aturdida pelo sucesso, pelo bem suceder! E em algum momento, enquanto tomávamos laranjada no café “ La Douce” eu te disse ou deixei brecha do-quê eu especificamente quereria de ti? Ahm?! Diga-me!_Nem suspirei._ Olha menino, se eu fosse uma mulher, sabia que eu tinha te matado esta noite? Poderia ter assassinado você com uma facada no meio do peito ou te serviria outro copo de laranjada, com uma fatia bem gorda de torta de ricota com cobertura de limão e soda cáustica, para você morrer bem devagar! Ou talvez te desse um prato de cereais, já que você tem esta cara indecisa de criança, com mil bolinhas de chumbinho no meio, misturados no meio do leite, para que você implodisse e saísse gritando só de calçolas, no meio da avenida principal, pra que todo mundo soubesse que tu havias comido a uma puta, mas que ela havia comido você de uma só vez, justamente por tratá-la feito a um buraco e nada mais! Porque nem aos buracos eu duvido que tu tenhas coragem de tratar tão mal assim!
E retrucou nervoso.
__Mas eu o tratei tão mal assim?_ eu não quis responder_ E tem algo de venenoso aqui nessa bebida?
Aí sim, explodi do silêncio e quis dizer:
__Primeiro recapitule, eu disse que “se eu fosse mulher”e eu sou homem, olhe bem, você viu e sentiu o meu pau e parece que gostou tanto dele que está nervoso agora, trêmulo, porque ele representa de tal modo, sim! A tua morte e quem sabe o teu renascimento e depois, a tua sorte é que não sou destas fúrias, as que não recrimino, quando são delegadas à maravilha da diferença e você entendeu não é, que estou falando das putas, das meretrizes que com quem certeza você nunca conseguiu sequer uma ereção vacilante, bem contrária a latejante como esta a que te domina agora! Responda!
Era para que ele sentisse bem a noção do que era, que eu queria ser cruel aquela noite, mas eu sou cruel, a vida é cruel, e crueldade não é pecado! Aviso logo aos puritanos que me escutam nesta hora falando de soslaio para que eu não possa ouvir, eu ouço tudo! Tenho ouvido muito bom!

Era preciso fazer silêncio e eu fiz silêncio de algumas poucas horas, enquanto a vela queimava azul, boreal, esperando atitude dele.
__Peço perdão então! Mas não era esta intenção... e o senhor não está errado!
__Senhor não, sou igual, temos quase a mesma idade, treze anos de diferença e quem sabe, você será um pai de família infeliz e remoçado, assim, jovem, como eu também sou! Mas tenho a pele boa, não gosto do sol em excesso e muito menos de torturas emocionais como as tuas, como as que te consomem! Você é bonito, muito bonito e com certeza não conhece carinho, que não seja apenas pelos teus cães, pelas tuas colchas de retalho feitas pela sua avó, por sua empregada velha que lhe leva o leite pela manhazinha à cama, mas é velha demais para que você pudesse pensar em meter! Ela seria com certeza a sua mãe, a que você não teve, e que está mais ocupada em destrinchar colares de pérolas, colhidas do útero de ostras ancestrais, arrancadas por contrabandistas, piratas insolentes e solenes aos quais, tu, reverencias nas tuas desocupadas penetrações de poucos dedos ao próprio cu, nos banheiros dos empregados, perto do celeiro!
__você é doutor psiquiatra?
__Deus me livre desses monstros! Eu não sou nada disso! Sou apenas um sonhador, um menos lamentoso que tu, tão jovem e já tão atormentado. E não estou aqui para te ferir, porque se tivesse, com certeza, tu já terias corrido daqui, creias! Tenha certeza! ... Por quê? Acertei alguma coisa?
Ele revirou os olhos como as atrizes da cinemateca alemã.
__Sim, o senhor, desculpe, você disse tudo o que acontece comigo!
Eu ri, não gargalhei porque seria crueldade demais e eu respeitava a vela que queimava, nem um terço ainda, da minha baba desmantelada e quente de devoção, exercício e parafina.
__É, mas foi apenas sorte! Minha mãe me dizia que eu era sensitivo, cigano, mas na verdade eu não passo de um bom observador e você, meu caro cordeiro assustado, você infelizmente ainda é muito previsível! Mas não se atormente com isso! Tente esquecer tudo isso que eu te disse e me diga, você quer começar tudo de novo? Quer recomeçar?... Ah! mais primeiro quero te fazer uma perguntar salutar, somente a título de proteção e prevenção de problemas para nós dois no futuro, futuro, digo de daqui há pouco!
E porque não era de todo “burrinho”, eu jamais perderia o meu tempo senão houvesse lama para lírio naquela alma, algo de orgulho lho ergueu de leve o queixo em desafio (fazendo questão de organizar bem a frase, incisivo).
__Pode fazer! Faça-a, por favor!
__Você sabe que é um homem? E que está na cama de outro homem? E que esse homem, provavelmente não é o seu pai?
Ele esnobou e sorriu, porque já estava tranqüilo das possibilidades de que eu não fosse um psiquiatra.
Sim!_e tornou a rir, agora ele gargalhava de nervoso._ Sabia, que às vezes você me parece muito engraçado?...
E eu senti uma leve vontade de mandá-lo tomar no cú, mas relevei constante para não estragar meu catecismo.

__Melhor! Melhor assim! Então primeiro ria comigo e dê mais um trago de whisk sem nenhuma piedade. E depois, ligue para a sua mãe e minta para ela, diga que você vai dormir na casa de um de um “amigo” do instituto escolar e amanhã, não pode passar de amanhã! durma de verdade, na casa de um amigo seu da escola e peça para ele te foder com carinho a noite inteira! Está certo?.... Agora olhe bem dentro dos meus olhos, me chame pelo nome bem devagar, quase soletradamente, me pegue pelas mãos e me peça um beijo! Eu te darei o beijo e você... me dará somente aquilo que quiser. E riremos sem pressa de nada, depois comeremos biscoitos com chocolate quente, eu te prometo colocar boas doses de conhaque na tua xícara e quando amanhecer, você tome o seu rumo e só volte aqui, depois de três anos, depois que tiver descoberto por inteiro, o que quer ser e o que quer que seja tu ainda serás sempre um homem. Você poderá até se travestir, me aparecer à porta vestido como a tua mãe, mas volte sabendo que para ser tudo, até mesmo violento, rústico, sagaz, poderoso, qualquer coisa! é preciso ser carinho. Combinados?
O menino estava seduzido, primeiro virou para o telefone pousado ao lado do criado mudo, fez exatamente e sem dor o que eu o havia pedido e depois como num ritual, passo a passo apenas me interrompendo para pedir que não apagasse a vela, porque era “bom olhar para o Cristo albino” e azul, era a sua cor predileta.


O pornógrafo

sábado, 30 de abril de 2011

Du haut de ma faim invariable




Do alto da minha mais invariável fome, do meu mais híbrido e colérico desejo, despertei. Posso dizer, que sou capaz de simular confusão, ainda que naturalmente, sem ter intenção de, a quem quer que me veja pairado, sofismando silêncios tão profundos que seja capaz de supor nesta ou naquela hora, tristeza. Fica de mim um calado gesto, erguendo-se tão lentamente feito a pólvora doce e crispada de uma translúcida transparência, o monte de areias flutuando por vontade própria como mágica silenciosa, ilusionista ao vento, assim, tão quieto eu serei capaz de confundir. Calando meus mais íntimos pensamentos, ainda que pouco submerso pelo peso “arregado” do sono, as pálpebras pesadas e cansadas serão capazes de traduzir quem sabe, uma boa noite ou boa e digna parte do dia dormido, mas em momento algum, aquele que não for esperto e não tiver a intima perfuração dos meus entanhos, dos meus segredos e mui dimensionados brinquedos, jamais, jamais, jamais saberá que como uma serpente o desejo sempre nadará dentro de mim. Silente e contínua, sem sequer fazer ruído, sem dizer palavra alguma chiada, eu seria capaz de ser dado como morto e ter o pau duro levantado, a lança que adversa a superfície virá muito mais dos resultados de dentro.(poupem-me as teorias primeiras da bexiga cheia de sangue, da vaso dilatação, dos hormônios e feromônios,das ciências resguardadas do medo.) O que eu busco agora dizer, participa e antecede muito mais a carne porque o que a habita em mim, é matéria do universo e todo feito de espírito. Vontade, celebrada e celerada pela indiscutível e primeira assunção do que é ser. E, do alto da minha invariável fome, eu que tenho comido tão pouco, que já comi de pratos e vegetações tão diversas, de carnes tão brancas, outrora vermelhas, duras ou macias, eu, apenas te quero dizer, que se me quiseres suplantado desse mundo, reencarnado nestas carnes que estou, ainda assim, não será nada difícil me encontrar na mera e simplória suposição de que a maior compreensão do meu “fetiche”, tenha sua nascedoura concepção no feitiço.? E feito isso, aí sim, poderás compreender que a minha doce e sacro-santa putaria, começa mesmo é no silêncio, para quem sabe, eu disse, quem sabe, quem sabe gritar palavra que advenha da necessidade real do corpo de fonar, de soar, de grunhir, ou palavrear na hora doce e rústica de minha foda.



Resposta aos teus tapumes e escoras para re_ dignar o nosso sexo.


O pornógrafo

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Le couloir de Brides toile noire




“Nada te perturbe
Nada te espante
Tudo passa,
Só Deus não muda.
A paciência
Tudo alcança
Quem tem a Deus,
Nada lhe falta.
Só Deus basta.”

Santa Teresa de Ávila

....

No chão da palavra doce, até a amargura parece mais fácil de engolir! E então, quem sabe, tem sido por isso que em dias de lua cheia, luz cheia e alumbrada sobre o meu quarto, eu tenha mesmo é vontade de me segregar ao meu próprio silêncio, buscando em mim nos varais da sacristia, a minha inocência, num tempo em que o cheiro de incenso e de mirra me lembravam apenas a presença doce de Jesus.
Era de uma lamentosa e pestilenta poesia, que o latim das missas rezadas por ele me chegavam. Não, eu não vou falar de nenhum caso repetitivo de incesto ou de moléstia sexual causada por um padre. Não vou, porque não tenho paciência para estas historietas, não vou porque não sou dado a estes escândalos que já baratearam no mercado, desde os tempos mais férteis, no quando era fácil acreditar que verdadeiras promoções trariam lambretas de presente nos pacotes coloridos, de biscoito fino. Nada era fino, tudo é pura gordura, hidrogenada!Tudo era sofisma, tudo era pão com miolo e bico de bisnaga grande! Tudo era grande demais para o meu corpo nunca adestrado, pequenino. Tudo era menino, tudo era eu correndo escondido para ver se as estátuas dos santos também tinham pau como eu tinha, tentando enxergar por debaixo dos panos das santas_ como eu perturbava Nossa Senhora das dores _ sempre querendo saber se os escultores tiveram cuidado de colocar calçolas nas suas obras santas de medo e de arte. Sim, porque me causavam um misto de medo pavoroso e letargia ignorante, ficar prostrado no meio daquela falácia incompreendida, esperando apenas que a fumaça vinda junto com os turíbulos me adentrassem pelas narinas, minhas primeiras drogas, tão boas! Vertiginosas! Me entorpecessem enquanto eu lançasse a cabeça bem atrás do pescoço, como uma porta arregaçando os limites das dobradiças, enquanto a retina se expandia tomando conta do amarelo inteiro do olho, encantado com o ouro do ostensório. E nisto, senhores, somente porque me lembrava com saudade o sol das minhas muitas manhãs no terreiro de casa, porque era droga boa, eu já disse! Porque me causava vertigem o linho grosso da batina desses padres mais moços passando por mim, roçando minhas pernas de meinhas, pouco coloridas! Na hora em que passantes, todos eles, eram noivas salvaguardadas no preto do recolhimento, no asseio e na segurança da espinha, dorsal, quando viravam de bruços de madrugada, para mostrar a bunda à lua e aos gostos-línguas, sabores da boca dos meninos, beijos gregos, na igreja católica apostólica romana.
Eu gostava das romãs que se despedaçavam quando caídas no quintal dos passeios da meia hora da tarde, quando o sol batia o pino de quinze pontos e nós podíamos brincar! E eu, odiava brincar, daquelas brincadeiras ridículas, rolando aquelas bolas ridículas, como idiotas levantando poeira para abençoar a visão bolinada dos padres, seus primeiros tufos de pêlos e testosterona, era com os padres, como menino “bom”, afeito pela desculpa de pseudo febres reumáticas, que eu também bolinava a visão encantada da mistura dos meninos e padres, tudo num balão feito na boca, prestando cuidado para não gemer enquanto olhava e cheirava os sovacos suados dos nossos guardadores, punheteiros de plantão desejando os meninos, assim como eu também os desejava!

Meu Deus, mas que pequeno capeta, era este pornógrafo! Digam todos agora, terão somente esta vez e direito, dados por mim de me então julgarem, para que eu continue a minha narrativa e o meu passar!

E tudo passa rápido, creiam! A lua está enchendo, meu saco está enchendo, minha mão está sozinha, solitária e despencada sobre o chenille pobre de flores, cafona, de rosas grandes bordadas da minha cama e eu estou aqui, teso pela lua cheia! Incomunicável! Intragável e apenas escondido, decidindo se saio à rua a procura de algo que não me cause vômitos no final ou se ligo a rádio vitrola e acredito nas babaquices que Kurt weill decide cantar para que as putas sejam melhores comidas.
Mas insisto em voltar ao dia, em que por puro abuso, decidi apertar de uma só vez, quase num solavanco, o monte sempre estendido da batina do padre mais jovem e mais lindo do meu reformatório! Meti de uma só vez a mão como que se eu quisesse puxar pra saber se existia algo ali, era claro que eu sabia que existia algo ali! Eu não era menino idiota! Tinha livros e mais livros de anatomia guardados na biblioteca da casa do pai, tinha até um baralho de homens fodendo mulheres abertas e sorridentes, estranho! Que era de um parente estranho "__Meu Deus como isso foi parar na sua mão?" _ era o que a mãe sempre dizia sorrindo enquanto eu gargalhava e dizia que não sabia como, “ que tinha aparecido de repente ali! Como mágica!” e eu só ria, ria, ria, gargalhava virando pra trás imitando as posições das putas e dos homens, enquanto tomava pancadas até correr escorregando pelas paredes da casa e chegar ao poleiro das galinhas e lá! Sozinho, tocar com a mesma violência o meu sexo ainda incorfomado, e eu preciso rir quando digo isso, porque eu instintivamente solapava o meu pau de criança que já tinha estrutura, que já tinha a promessa bem talhada de ser, sem conseguir nada, nem uma gota que fosse, resultante da úmida esfrega misturada com o cuspe da minha boca de dentes de leite.
O padre se assustou! Me lançou tão longe que bati com as costas na parede! Mas como tudo em minha vida, dispensa palavras em excesso, por conta do olho nu de litros de sol que tenho, o desgraçado, engraçando sorrisos apenas disse: __ Não é assim que se aperta, tem que se ter cuidado, porque é carne macia. E se não cuidar, tu que ainda não sabes medir a força que tens, podes machucar!__e de surpresa, inoceeente! Pegou da mesma forma no meu pau e disse: __ Viste como dói?... é deste modo violento, que tu gostas de ser tocado?
Eu permaneci em calado, fingindo susto e meu pau subitamente engrossava, eu não era tão menino, era raquítico, mas já tinha doze ou quem sabe treze anos para os que me queiram dar denúncia de pedofilia a esta altura da leitura! Mas permaneci calado enquanto ali, no corredor de Santa Thereza D’Avila ele tentava me confundir. E eu era esperto e já tinha medido tudo, menos o tamanho do meu pau junto do pau dele, para saber como promessa de relicário e benzedura, se o meu pau, quando eu crescesse seria maior do que o daquele padre lindo, miserável, sem nenhuma vocação para o sacerdócio! __Não doeu? Ahm? Responde menino!
E por fim como eu queria mais, e não tinha tempo para aquela bosta de liturgia barata que ele nem mesmo sabia usar, sugeri caminhando para a cela dele, que ele me mostrasse a vista do edifício para a rua. Entrei, antes que ele mesmo tivesse tempo de abrir assustado a porta, retirei os sapatos para não sujar a cama de lençol esticadinho, sem nem flores, nem chenilles, muito mais barato que o meu, dado o “supostíssimo” voto de pobreza da ordem deles; e da janelinha de grades, olhei respiradouro de um pulmão inteiro, aos outros pequeninos que ficavam lá em baixo, andando nas ruas, querendo fazer suas coisas valerem algo em tempo de ganância e de bravura bem “alfaiteada” de covardia. E somente quando me cansei, porque sempre vivi no meu tempo para entender o dos outros, isso era dom desde criança, me virei lentamente para ele e disse: __Mostra para mim como é o teu, porque eu preciso ver como ficará o meu quando eu for gigante!
Ele sorriu e disse: __ Então você vai ser gigante? _ eu nem retruquei, abusado santo e decidido, descontando nas próximas ações de palavras: __Vou ser sim senhor, quer ver?_ e abri os botões do meu calçãozinho de colégio, passo a passo, até que revelei com a mesma doçura e santidade dos corredores das vertigens e das noivas negras que eles eram, a maravilha ainda pouco abençoada do meu sexo rijo, “ una verga mui hermosa”_ o encantado era espanhol!_ grande e promissora para o corpo, o peso e altura que eu tinha. E quando digo, que tudo é instinto, assim como a lua crescendo que sinto, foi também por impulso e todo nascido da natureza, que completei o meu rito: __ O Senhor gostaria de colocar na boca?
Furioso ele responde: __Á boca e não “na” boca, parece que não estuda o português!_ E sem dizer mais nada, porque os senhores agora suporão das idéias da boca ocupada, do degusto, da baba, das esguelhadas da língua rosada e ressentida ainda das hóstias da manhã, eu recebi a minha primeira chupada.

O meu pau está à mão agora e com a lua me invadindo, enevoando e ressurgindo, quem sabe! pela presença de matérias tão mais sutis dele, do padre, que já pode ter morrido um dia, mas quem sabe, vivo, aqui, ao meu lado, me chupando de novo como nunca, na bravura meta-física da “imaginação”.

O pornógrafo

Petite enfance mésaventures douce




Fumei uma cocada branca, comi um cigarro, inventei que era um anjo e fui dormir.


O pornógrafo

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Cigarettes du prophète __ Dédié à tous les enfants intelligents





Foi tomado por uma fúria de séculos, que fumei três cigarros até o revés dos meus colhões. Completamente detido e solto por uma ventanosa e estonteante usura, me deixei levar pelas palavras de uma força estranha, que não palavreava, mas entoava sonidos e certeiras vontades dentro de mim, como se meu corpo, fosse inteiriça e forrada caverna de lodos, que corri pelas ruas até chegar ao quarto alcova de minha solene e seletiva visitada casa. Passei ainda furioso por este senhor tão bom e decisivo no espelho, que eu era mesmo, até receber de uma só vez, pelos lóbulos ainda pouco quentes dos ouvidos, o barulho dos sinos que ressoavam qual “mantrinhas” budistas ao pé das cavidades profundas da minha perceptiva e austera carcaça de couro bom e de olhos amarelos, o meu corpo inteiro tinha decisão e abstido da necessidade de saber, apenas sentia, ascencionava missões que eram somente minhas. Fui com meus passos decisivos ainda forrados pelo cuidado dos sapatos, que ainda me guardavam a nudez dos pés, dos perfumes e lumes guardados entre os dedos, entre as minhas cavalgaduras, das minhas plantas selvagens de pisar o mundo, que cheguei até o meu destino.
Atendi a porta no meu tempo, muito consciente de que ao seu tempo, quem me procurava também me buscara em seu próprio tempo, porque só há mesura no encontro de dois ou de três ou de mais, não importa a contagem na hora desta minha narrativa, quando cada qual sabe do seu próprio ponteiro e muito mais ainda da sua própria vontade.
Recebi, sem sequer palavra ou som àquele que da busca, da procura me ansiava e me dirigi sem nenhuma “frescura” de boas vindas ou conforto, ao quarto que ele esperava encontrar. E era o meu quarto, visionado na sua cabeça de cabelos arrumados, enquanto os meus cabelos começavam a se mostrar, desalinhados à medida que eu mesmo afagava com as minhas próprias mãos, o topo atmosférico e muito são da copa dos meus cabelos.
Fiquei nu, arranjei na vitrola a música que eu gostaria de ouvir, os ruídos e tonsura dos padres que voluntariamente se trancavam com outros padres, para adorar a uma única mulher? Maria? Mentira, para adorar uns aos outros nos frios arcabouços das madrugadas, carentes? Mentira, eles, os padres gostavam mesmo era de cantar suas canções, doçuras, torturas inebriantes e suposição dessa fé, para mim nunca duvidosa, quem era eu para julgar! Seus cantos gregorianos, salvaguardando Gregórius, gargantas doces capazes de engolir até o topo das espadas, seus talos de pêlos deliciosamente perfumados com os sabonetes preparados pelas irmãs, que também jorravam com certeza seus gozos, nunca profanos, porque decididos, numa outra igreja, que eu também nunca conheceria, bastando-me o fato de preferir para aquelas mesuras, os meninos de cabeça mal formada como era ele, o recém chegado, achando-se no dever de a mim perguntar: __Meu Deus! Mas que sacrilégio! Por que música Santa e não Billie Holiday? Por que não um tango?
Nem me dei ao prazer de responder e apenas disse depois de cinco minutos calado, prostrado de pé firme adelante de seus olhos, enquanto o garotinho tagarelava, suas justificativas, falava das jóias da mãe que lembravam os lustres da minha sala escura, a bela pintura, falsa, da Monalisa, que eu estendia a beleza rústica e sem cuidados dos papéis de parede do meu corredor, que seu tio trabalhava com essas colagens, trabalhava há vinte e cinco anos nisso, porque era judeu e só sabia pensar em ganhar dinheiro quando chegado na cidade e havia ficado rico! Enquanto apenas o fitava e meu pau se erguia, solenemente no silêncio jamais indiferente das minhas esquivas e constantes ausências para a contemplação do show de sabedoria, imprestável que me era apresentado por aquele pudente falastrão.
No fim, de alcançado tremor sem sequer perspectiva de retorno ou de espera, apenas respondi: __ Vou me deitar na cama! Posso?
Trêmulo e convulso, com medo do que logo, adviria sedento do que eu “malvado” ou seria mal lavado, poderia pedir, os lábios se carminaram e ele quase transfigurado retrucou: __Mas é claro que pode! A casa é sua! Creio que já está em hora de eu ir embora!
Sem dar tempo a sua resposta eu não respondi, apenas disse: __Vou acender um cigarro, você quer me chupar enquanto eu fumo?
Ele silenciou, e pude sentir que um leve movimento circular delatou sua cintura, a estrutura até então retesada de todo o seu corpo uniformizado de menino rico e vi também, eu não preciso jurar! Que seu peito se abria como se ali eu tivesse resposta de que o menino, por puro fetiche já era homem e que conhecia bem daqueles sabores. Completei: __Vou acender dos cigarros mais longos, para que você o possa fazer sem pressa, sem medo de que a cinza se apague e a sua boca fique incompleta no palato das tuas vontades orais!...Sabe menino, que há doutores que estudam em toda a França, que as crianças que chupam dedo, que mamam nas chupetas de borracha até tarde, tiveram algum desvio na fase oral? Que os pedagogos, ah como os pedagogos gostam dessas tiradas, para enriquecer suas aulas mais podres?__ eu ri!_ Desculpe, eu quis dizer "as suas aulas mais" pobres! Gostam muito de falar sobre isso!?
Ele disse que sim, que podia fazer se eu quisesse. E eu completei enquanto riscava com cuidado circense o fósforo não tão longo quanto o meu pau, mas cabeçudo e vermelho como também ele era_ Mas você é um jovem inteligente para saber que só chupa mesmo quem gosta_ e ainda disse_ quer saber mais? Todo o mundo gosta de chupar! Portanto não se culpe! Eu também chuparia você se você tivesse vontade!
Foi então que, de um soslaio adventista e mercador, ele tirou peça a peça do terninho que usava, deixando por último os pés, me perguntando:__Posso ficar de sapatos! Amo estes sapatos, me excita ficar completamente nu, mas de sapatos? E tenho medo de que chegue alguém e os sapatos são os mais difíceis de calçar! Posso?
Respondi afirmativamente que sim, nesta hora já na segunda tragada, eu brincava com o tempo dos cigarros, porque eu tinha uma caixa dourada inteira do lado da cama, e pedi para que ele começasse logo, sem tirar dele o medo de que alguém pudesse chegar! Quem era eu, para desmitificar o medo de uma criança?! Ahm?
Ele quis vir entre as minhas pernas,primeiro as afastando com o cuidado de suas mãos ternamente aveludadas do piano que tocava, estava certo que ele pedira por Billie Holiday, mas que no fundo ele amava Chopin e eu tive certeza disso, quando sua primeira boca começou a tocar com cuidado direto, ignorando minhas coxas rochosas e duras, para ir certeiro e direito ao centro da fenda do meu pau doce e bem talhado!
Era realmente uma canção a sua boca, ele cantava enquanto chupava, tinha o dom madrigal das alturas dos meninos sopraninos, a língua doce e arqueada dos tenores, quando queria impor a mordedura dos seus dentes que a minha glande por grossura e exercício da vida, conseguia suportar. Tinha também os desvãos e desassossegos do respiro infante, trêmulo, nervoso, dos pagãos russos com fome, das bocas que banqueteavam sem saber da existência de Oscar Wilde, uma delicadeza ensaiada de quem queria mesmo era morder, se fartar, engolir, sorver, mamar como um bezerro desgarrado após o encontro tardio e amoroso com a mãe, e segurava com as mãos, com as duas mãos a minha estrutura toda de nervos e veias, estendendo os braços até o meu peito, para sentir o furor calmo da fumaça dos meus cigarros adentrando os meus pulmões, sofismando de doenças e pigarros falsos a minha garganta, que só queria disfarçar o prazer das surpresas que ele, de sapatos lustrados vermelho bordô, com as meinhas inglesas, de triângulos negros e brancos, conseguia me dar enquanto eu fumava! Acabado o primeiro cigarro ele apenas me disse: __Acenda outro, por favor!_ como se o tabaco fosse a sua ampulheta, divagando no próprio pau, também tão lindo, braçadas, punhetas! Dando-me ordem doce, da qual eu me permitia apenas sorrir, enquanto acendia outro cigarro, agora um dos mais amargos, importado, de que terras nem saberia dizer! Eu era um miserável, cheio de sorte, que tinha o dinheiro que precisava e amava prestar caridades aos meninos como ele, só não o deixaria fumar! Posto que fosse um menino e isto seria responsabilidade minha, ora veja! fumar não é coisa para um rapaz decidir por impulso ou para impressionar aos outros! Ah isso eu não deixaria, mas poderia continuar a chupar, porque ele gostava e eu não queria postergar o tempo do prazer dele e nem o meu.
Continuou suas doçuras, arrastando os sapatos entre os meus pés desvestidos, nus, enquanto me pedia para que eu fosse até o fim. E entendendo nisso, que ele queria mesmo era da água das minhas veias rijas, ele sentia o pulsar, já devia fazer isso nos elevadores da escola dos salesianos onde estudava, no troca e no corpo santo dos colegas das classes do científico. Ali o detive e parei todo o seu corpo. Afastei como se eu fosse de verdade cruel, eu não me importava, detendo com a força de um estivador o curso e decurso do meu próprio pau e de uma só vez, caminhei dando a ele a visão contornada das minhas nádegas até a porta da cozinha. Do corredor, já chamei pelo seu nome_ e não posso revelá-lo aqui_ ele veio correndo atrás, como se esperasse que eu o fizesse sobre a mesa, e eu sim o faria, se esta fosse vontade também minha. Mas para surpresa dele, abri a geladeira, saquei de uma garrafa de leite novo, puro, recém comprado e disse com toda força: __Bebe! Não é leite que tu queres?_ ele se sentou, cuidadoso entre as cadeiras já descascadas, assim como os papéis de parede da Monalisa no corredor, e me obedeceu bebendo com uma sede absurda todo o conteúdo da garrafa de 3ooml de leite, antagonicamente jorrando no chão de tábuas corridas escuras da cozinha, outro leite que provavelmente não era o mesmo que entrava pela sua boca, e eu sorri! Enquanto encaixando-o entre as pernas, tomando cuidado para não molhar sua pele branca e asseada, eu fiz que do meu pau, jorrasse do meu leite chamado por ele, jatos e jatos de lânguido e viscoso sulco dos pomos brancos sobre os seus sapatos vermelho bordô. E creiam, não sujei com nem uma gota esporrada as meias quadriculadas inglesas dele.

O pornógrafo

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Petit scarabée


A gosma desavergonhada desse alabastro deixe-a toda escorrer-se entre tuas pernas!



O diabo não conhece as guerras! Ele só perturba, mas não conhece as guerras. Ele não range os dentes de dor, mas de prazer. O diabo não sente dor. Ele escarra e goza ao mesmo tempo na nossa cara e depois do seu phalo em regozijo, ele mija para o alto num imenso jato de dourados, uma esguichada de mijo adolescente.__ Dos homens, o adolescente é o mais próximo do diabo, seja pela sua imberbe postura mansa de pêlos refestelados ou pelo olor tão madrigal e fustigado entre as axilas e por entre as pernas do coroado.

A baba desavergonhada desse alabastro deixe-a toda escorrer por entre tuas pernas.
O diabo não conhece as guerras, ele só perturba, mas não conhece as guerras!...

O pornógrafo

sábado, 2 de abril de 2011

Réponse oa prince des marées et l'aube boréale




Li sua carta, na verdade não consegui dormir, já que não durmo, apenas mergulho rápido no mundo n’onde maior parte do tempo já vivo, estou falando do mundo dos mortos, dos vivos meus irmãos, nossos irmãos, das fadas, das marés que nos alcançam, das auroras boreais que comunicam comigo suas viradas de cores, suas nostalgias, seus processos, seus passos...
Seus passos naquela noite foram acompanhados por mim e vi a cada letra subscrita na hora do assomo possesso de sua palavra descuidada, nascida pelo impulso da dor e da necessidade de superação, como um sedento que procura água, como um dolente que procura notícias de um filho, de um amante, de um irmão, de uma metade sua ameaçada e perdida nos meios das gentes e mundos, de um só mundo. Senti cada pancada, entendi seguramente cada minuto de repressão e de ameaça, cada estocada covardemente dada na tua cabeça, nas tuas idéias, nos teus medos e revoltas, nos teus pensamentos, nas tuas memórias e nos teus resguardos, tão bem plantados quem sabe pela segurança admoestada da figura amada e masculina do pai. E os pivetes tinham pai? Eu me perguntaria agora, mas não me interessaria sinceramente à resposta, porque mais eu gostaria de sarar com salivas, as porradas e os solavancos do teu pescoço, com o melado das assírias, com as ervas e corpos dos gafanhotos, com o mel cipreste do meu cuspe, da minha saliva, como uma cadela que é capaz de lamber o ferimento no lombo do seu filho, de outro cão. Eu queria poder gritar o que não sei se era dor,mas que estava sufocado? Ou partia em revoada como um novo conceito no final de tudo, para um céu menos lacrimoso, mas muito mais cruel do que todo o seu medo. E você, que não sente grandes medos, da vida, dos outros, dos homens inseguros, eu gostaria de aninhar no meu peito e te deixar falar tudo sem dizer sequer palavra, posto que fosse sabido que de tudo eu pela nossa mágica e enluarada ligação, te faria descer até os solos porosos do meu coração trespassado de batidas e córregos de sangue por teu presente corpo colado no meu, pelo cheiro doce dos teus cabelos, agora aloirados de sol. E eu apenas te daria prumo no meio de tanta incerteza que o mundo insiste em corroer, no meio de tanta definição pré-suposta e administrada. E se preciso fosse, diante do teu tempo, pelo nosso tempo eu te diria mais uma vez: __ Volta para festa! Dança com a menina mais linda e esquece o que eu fiz com você essa noite!_ mesmo sabendo que as etílicas destiladas babas que tu bebesses, não seriam mais alcoólicas e perturbadoras, que a lambida que eu, cão, daria no teu lombo, na tua carne, nas tuas feridas, nos desvãos das tuas palavras, respiradas com pressa e vontade logo de ir embora.
Eu começaria este texto de novo, tentando te dizer, que todos somos marginais, porque a margem de toda compreensão estamos, a margem mirada da compreensão de nós mesmos, não estamos distantes da assumida e presumida ação de preconceito dos meninos, dos crioulos, negros pobres da educação e da necessidade, quem sabe a cada soco, de serem você, tão bem equipado diante do mundo, para eles, tão reto no teu caminho pra casa, do que se passa a necessidade destes outros marginais por tanta violência somente investigando e não muito difícil nos seria a resposta, com o tempo voltado para eles seria possível saber. Mas não quero assumidamente falar deles, quero falar do “casal de homossexuais” até segunda ordem frágil, por sua assumida condição e te perguntaria, porque frágeis se susceptíveis e perecíveis todos nós somos. É bem verdade que tantos “gays” morrem espancados a cada dia, atravessados por galhos e troncos nos seus buracos e cavidades do corpo santo que outrora sentia a elegia da oração dos orgasmos, também marginais? Eu te pergunto! E esta condição de fraqueza e de susceptibilidade a eles seria dada porque são dotados de sensibilidade e a sensibilidade foi coisa criada para as mulheres? Mas você chorou, as meninas choraram, os meninos enamorados (“gays”) correram de volta para outro caminho e teu amigo também chorou, copiosamente numa cobrança absurda de não ter conseguido proteger a todos os desprotegidos da noite. E com certeza se não me falha a boa e incontestável intuição, e que nos salve sempre nela a boa lua, os meninos negros, os crioulos marginais também devem chorar em algum momento de suas vidas, talvez chorem todos os dias e precisem de armas compradas a preço de drogas muito mais consumidas, do que vendidas, para meter medo a alguém e se sentirem importantes.
Perdoe-me meu querido e amado príncipe das marés e das auroras boreais, mas jamais ouviria tua voz nas tuas palavras tão precisas e por mim tão capazes de serem sentidas, passo a passo, cada polegada de som ou ruído dos teus dedos, o teu peito comprimindo-se em espaçadas composições de revolta e água de segredo, sem que eu pudesse falar de toda a questão que envolve o mundo dessa ocasião, sem que eu pudesse deter é claro, porque se te ferisse eu, segredo, jaziria nas entranhas afamadas da terra. Como tu moras nunca morto entre e por debaixo das minhas peles, na estrutura e na nudez e na corrente dos meus ossos, ponte para o espírito, eu te desejo e fecundo no espírito e dentro de mim, auroras boreais; de um roxo fecundo, bem distante daqueles dos forros dos ataúdes, eu te diria que a vida começa roxa, convertendo-se em vermelho rubor quando decide nascer. E é sempre assim, bastava que arriasses as calças até os joelhos e examinasses qual menino, trancado em banheiro de escuta, santuário de espelhos docemente carcomidos pelas rudezas das ferrugens, que é o ouro que o tempo permite e te depusesses a admiração do teu sexo. E porque tudo é rito, tu te excitarias e quantas surpresas ao perceberes que as mesmas cores do mundo residem no meio das tuas pernas, no veludo macio dos teus colhões, das tuas coxas, na cabeça transtornada de carinhos esquivos do teu sexo. E me sentirias ali, sobrevoando como um vento inócuo e presente, sempre constante nas paredes e nos azulejos desse banheiro que mesmo sendo de estruturas modernas, jamais conseguiria deixar de ser ancestral, porque ancestral é o desejo, milenar é o mundo e infinita é a marginalidade de desejar.
Então é hora de perguntar:__ Mas meu Deus, que ser é esse que me procura nas entranhas e vagas mais imprecisas? Que insiste em querer me perturbar e perfurar as vaguezas mais imundas e por tanto só minhas, porque ele insiste em querer nascer lírio nos lodaçais n’onde somente eu decido o que quero deixar pisar?
É porque, senhor lindo das auroras, ter te visto e esquecer teu nome, o que vem antes do nome é impossível! O que te presume, o que te pressupõe a mim não te constrói, mas o que te escapa e te edifica de pura e majestosa coragem__ e não é pecado sentir medo! Ele é o tempero do tempo dos nossos encontros nunca tardios, sempre amadurecidos, nunca devesos, sempre colhidos do pé, na hora certa de sorver o sulco do aninho e da bondade das árvores.
Ontem, quando o carteiro de vento bateu à porta e eu estava letárgico, adormecido diante das fibras e voltas de inglórias da minha tramela, na busca de fotos e fatos e palavras que me devolvessem a corrente boa da comunhão com a minha própria natureza e você me veio, cântaro cuidadosamente regado de destilados azuis, da água tonta que te deixa mais sóbrio e mais ciente do que é o mundo, quando o verdadeiro mundo corre mesmo é por dentro de cada um de nós,ontem quando eu vi tuas palavras endureci amolecida nuca de desejos e pequenos sóis. Quantos nós, quantas fitas coloridas de cetim, quantos lençóis estendidos num varal de quintais de ventos e correrias, quantas árvores boas, quantos matagais, quantas plantações de mostarda dando flores amarelas, para eu colorir teus cabelos, entre os seus dedos, florinhas colhidas no mato mais selvagem, quantas músicas ôcas e simbioticamente liquidas, sentirias com teus lóbulos, tuas orelhas mordiscadas, tu ouvirias com o corpo da suntuosa arquitetura dos caramujos, quantos presentes no mato de minha infância eu te daria! É assim, porque quando falo contigo, renasce constante e quase sempre o menino que um dia eu fui, que ainda sou, que ainda insiste em vigorar nos altos pomos da minha envelhecida e ainda pouco resguardada vocação de sentir. Creio que a paixão seja sempre menino. “Petit”, Niño, Criança, infante, menino.
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Le pic se lève tôt




Afiando as demasiadas pontas do corpo, dando-lhas todas possibilidades e destino de melhor cortar, melhor entrar, melhor meter, melhor atravessar! Lustrando o decurso e o percurso de todo o seu corpo feito de lua e prata e de metal, remindo de colores e odores a ponta dessa estrutura que tem como destino a crueladade de se enfiar corpo a dentro e perpetrar no mangue de cada escolhido. É assim...