sexta-feira, 4 de maio de 2012
Bla des désirs lumineux
Por conta de todo desejo que me corre a vida trespassada em misericórdia, jamais me deixaria sem o dom de volver ao que me circunscreve, passo a passo das carnes e matérias de espírito de que todo sou feito. E creia, que mesmo em face de toda circunspecção, eu não deixaria de dizer ou me fazer nu, declarado, nos contornos da minha face torta, do meu queixo indecente, do meu olhar amarelo, filigranado, do que por dentro se escoa, se ecoa nos vasos mais porosos de minha dilatada usura. Também, calma, a extensão enervada de concisos e atuantes pulsos, na balsa inteira de minha cintura. Na bacia dos meus quadris, pêlos exasperam-se puxados com força, pelas carnes do meu sexo rijo e intumescido de concórdias, diretamente conjugados a tua presença, ao que vem antes do nome, ao teu enevoado e contrito pouso de matérias e quânticas asas, quando sublime, me chegaste aqui. E eu não teria medo, já que o medo, diante de ti, seria espelho diante dos recuos, que me desarvoram muito mais a motricidade do querer e me instigam mais ainda ao desejo de estar, face a face, olho a olho, cara a cara, dessa fímbria doce e jaculosa que um dia, nos compusera homens; jamais, o conceito ortodoxo e atávico de tantos outros homens, familiares, meliantes ou doutores, me fariam recuar diante do que comove e move os meus olhos, a estrela direta e profícua dos sentidos do meu coração batizado por tantos, como anárquico, desesperado, enlouquecido, vermelho e cru. Eu, seria apenas o homem, simples, divisando os signos do teu mistério, sedento, esfomeado, enxovalhado, tresmalhado como ovelha desgarrada para te encontrar, sem nenhuma culpa, sem nenhuma dor, sem nenhuma gosma ensandecida na garganta que atropelasse à hora do dizer, já que meus dedos passeariam pelos teus cabelos, livres, como se libras dessa linguagem calada e de retinas maiores pudessem as plantas dessas mãos tão intencionadas de fúria e decanto, entender passo a passo dos teus desenhos mais ínfimos, mais íntimos, mais secretos, teus buracos, tuas narinas, tua boca, as dobras de tuas coxas grossas, torneadas para a dança nova que teríamos no palco oloroso de alguma cama perfumada. Eu, fumarento, vaporoso e ao mesmo tempo encarnado, de ti, engoliria cada cheiro, cada fragrância, cada calor escondido nas tuas dobras mais juvenis, n’onde a pele se esconde quase virgem! Porque algo pouco tocada, algo pouco lambida, alvo e pouco babada pela boca de suntuosa gruta, pela fruta carnuda de todos os meus pomos e lábios vermelhos. Eu te entenderia em mim, te atenderia em mim, nos meus braços, no meu peito o teu cansaço, eu faria resolvido, ainda que por poucos minutos, algumas horas, como transfusão de energias, nos sopros, nas mordidas, nos carinhos, nos cantares, nos líquidos suarentos, nos beijos, na forma incendiada de te receber, deitando o teu corpo, abençoando “Pietá,” em meu colo de agora homem, mais por ti e contigo, inteiramente igual e menino! E soariam sinos, no alto de nossas cabeças, na periferia inteira desses nossos quartos de usufruto e fastio! E sem a pressa de dar nomes ao que faríamos, ao que teríamos por hora enviesada, numa necessidade de estrada longa, num pacto sublime, para que não fosse somente paixão e nunca houvesse de morrer. Calaríamos, tentando retardar as horas, para escutar os caminhos abertos, tocando ferrenhamente um o corpo do outro, enquanto aspirássemos como duas dragas de boca semi-abertas, de íris completamente ampliadas, um a presença espargida do outro, porque o mundo seria o nosso mundo, seria a particularíssima língua a que sempre nos volvemos e devolvemos num segundo de sempre nossos encontros! E somente nessas terras eu e você, conseguimos entender que palavras idiomáticas são estas que conseguimos falar tão bem, sem que precisemos deixar de ser por um só segundo, a nós mesmos! Sem que haja obrigação alguma ou ordem infeliz de fora, pior ainda de dentro, que nos intercepte a vontade, a amizade, a compreensão e o tamanho de nossos corajosos pequeninos corpos, nunca ermos, diante de desse abismo que é sentir!
Eu sentiria por ti um emaranhado de coisas multiplicadas no desassossego das solidões. Eu, que sou de algum modo e ordem, cigano, que passeio pelo mundo e não me calo diante das indignações, brigaria e te abrigaria a mais profunda ponta aguda das minhas hastes, nas tuas cavernas mais secretas! E quando desejasse em ti estar penetrado, “alumbradamente” abraçado por tuas carnes e envolto por teus calores de dentro, desejaria mesmo e fatídico, era tocar teu espírito, deixando ao corpo o valor secundário de me fazer estar mais dentro dos teus hemisférios. E salivaria por horas, as águas tontas de desejo no meu corpo, para dentro do teu corpo. E te diria palavras sem sequer abrir a boca, porque saberia de ti a capacidade imensa de também me dizer disso tudo! Escreveria com a tinta desse verniz que baba a ponta doce do meu pau, por todo o teu corpo, as poesias mais lindas e vorazes, as palavras mais cativantes e libertas de desejo, a minha língua dançaria luminosa e cortês no interior da sua boca com um plâncton luminoso, sentindo o frio do caucásio dos teus dentes, o cálcio morno dessas pérolas plantadas na tua mandíbula, espetacularmente perversa e sábia das mordidas certas, das sucções mais profundas, dos intervalos mais cheios de tempo e prazer peremptório!
E nesse ostensório sacrossanto e pagão de muitas luzes e sóis, que são os olhos sentidos quando luz e brilho, eu te abrasaria mergulhando antropofagicamente adentro e para sempre me misturaria na corrente boa do teu sangue que bombeia e faz encher as balsas da tua ereção, eu me faria uma canção, doce, para as horas do teu vogar, do teu vagar, nas tuas trilhas de desassossego, eu te ampararia nos meus braços com a força dos meus músculos frágeis, mas cheios de calor. E diante de mim, quando tu tivesses de pé, arrancaria a roupa, como se a primeira vez despido, oferecendo cada penugem das minhas estruturas, para depois enxergar como se infante diante da descoberta mais genuína de um pássaro diante do sol, a tua estrutura toda de arrimo e doçura, de rigor e feitura, assistindo a tua nudez, para beijar, fremir e gemer, sussurrando a temperatura quente toda da minha boca, meu interior, desde os teus pés, a tua panturrilha, teus joelhos, as tuas pernas todas, a maravilha do seu sexo perfumado, teus colhões, tuas nádegas abraçaria, enquanto do meu tronco os teus princípios sentissem o meu sexo quente, arrastando-se como se numa via pascal, até que eu seguisse ao teu umbigo, tua barriga, todo o teu tronco, teus mamilos chuparia, sorveria, com ósculos molhados e cuidados, cheios do intenso fogo que me governa desde o princípio, desde a gênese de minha aparição, saudaria também com alegria teus braços, até encontrar com força o encaixe sazonal de nossas mãos, deitando primeiro a cabeça pendida nos teus ombros, para na tua cabeça alcançar tua altura, tua sanidade e loucura e depois me fazer em ti como um só beijo, uno, lagrimal de solfejos e agridoces águas bebidas na caldeira de tua boca. Teu nariz, ponte agudando os desejos te fuçar como se fosse bicho, a luz clara e sombreada de nossos intervalos no abraço, agora mais desnudo, que eu sentiria profundo, até que por fim, como se do meus precipícios e inteiriço de minhas entranhas, fecharia tuas mãos no meu sexo, assim como também com minhas plantas quiromânticas,contornaria tão bem o teu sexo, até senti-lo pulsar junto com o meu! E assim, ressurgindo natividade, deixaria, de verdade, que uma cascata do leite mais poroso e grosso fosse chorada até o alto de nossas aréolas, pela ponta mais que deposta de nossas vergas, pulsantes, acumuladas, felizes desse emaranhado de sentidos para depois dizer, colado, insofismavelmente lambuzado, acometido e torto desses prazeres que sinto ainda agora, quando aqui, descarnado a te fazer em mim, palavras sussurradas num sem fim, nos lóbulos das tuas orelhas eu diria, na concha confusa dos teus ouvidos, que por tudo eu friso, que por tudo eu riso, eu choro, eu vivo estarei aqui para este encontro, para te saber! E porque eu gosto do teu gosto, da nossa infinita e etérea ponte que se fez até aqui, que eu me farei fecundo e por demais feliz, jucundo, atrevido, cavalo de crinas soltas e livres, ainda, voarei até o teu sorrir.
O Pornógrafo
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