sexta-feira, 9 de março de 2012

La fête de la fin du monde





Por onde há ardor e cansaço, atento os meus braços a chegada deste afago que seja puro vento e companhia. D’onde me viste de longe, elegia. Visão prurida de impedimentos e tormentosas fantasias para as quais batizaste por teu nome, teu rigor, tua destreza diante do espelho, tua esculpida tabela de números e resultados, costela a costela, braço a braço, perna a perna, orelha a orelha e surdez. Emudecido, nem sempre te impedes umedecido. Nem sempre não floreiam teus verbos e dissabores no cansaço do que nem ainda começaste. Embevecido de cólera, cerveja e medo, enquanto eu sou vinho e decantado, enquanto eu sou vivo e depravado, tu morres empedernido e contrito, cada vez mais encolhido dentro. Não há mais lugar para palavra, só existe cansaço, só existe a ausência. Só existe o verão, a primavera, o outono, o inverno, o verão, a primavera, o outono, o verão, inverno... não existe uma estação n’onde nos encontremos, não existe presente guardado com carinho, não existe carinho, só existe cansaço. Só existe o espaço esperando para habitar. E dos teus hábitos, trejeitos frágeis e desavisados de um menino que se julga em pleno vigor, quando nem cortado ao meio, ainda, o tempo de vida, somente ferida escondida com arrimo e sabedoria?, por uma camada bem aplicada do pó dos rostos das moças de trabalho fiel. E tu és fiel, mas em ti não há trabalho, não há nem sequer, agora, um pequeno tecido roto que seja dos grelos dessas moças, tão mamados, tão chupados, tão exasperados por bigodes fedorentos, fumarentos, esfomeados, quando por elas e soberanamente delas, o dom divino de elevar a fronte e divisar, na beleza das lâmpadas a maravilha dos lustres quebrados, enquanto ainda, do alto de seus poderes ancestrais, jamais pudores clericais, são capazes de gozar a boca e o beiço todo do infeliz que as pensar consumir. Quando do alto de suas almas e espíritos, extasiando e ungindo, apenas para um pequeno deus, nas lembranças dos filhos, dos trilhos, das correrias trespassadas do pretérito enfermiço de suas infâncias intocadas. E estar ali, oferecendo a boca e a fenda dessas rosas de olores perigosos, jamais as distanciariam sequer, de enxergarem amor. É porque tu temes tanto de amor, que tudo em ti é capaz de simular absolutamente nada! Teus joelhos te condenam, tuas mãos suarentas, teus olhos crispando entorno das pupilas brilhos mortos te condenam, vermelhos de chorar um choro futuro, que só desabará da garganta quando estiveres trancado e trincado entre as pernas, nos quatro cantos do teu quarto ou banheiro e escondido! E redargüido, e falsamente exposto no teu troninho de verdades absolutamente corajosas, porque apregoam tuas decisões. Tu és rapaz resoluto, e por luto, a falta de orgasmos supostos, de tua própria mãe, tu também hás de permanecer incólume, irrestrito, inconsumível, edificado, adestrado( não tivesses dos animais visão inferior),consternado e feliz, feliz, feliz, nos teus passeios pelas praças, todo vestidinho de modas e cabelos arrumados ao bem do século e da década ocupada pelos sãos.
Eu pedirei uma brisa ao tempo, para que tu não sufoques, não engasgues, não tenhas esmagados os nós da garganta, já que eu sei, que não és de palavra e eu, sou lufada, sou gozo contínuo, hemorragia para o teu pinga- pinga controlador de sangue. Controle então o rubor da tua face, controle os teus intestinais solfejos de loucura, controle as tuas ereções por dentro das tuas calças ajustadas, o teu cabelo que nunca se arruma porque o vento sopra livre e tão livre, que teu grito jamais o coibiria! Jamais tua tempestadezinha de merda, seria capaz de desvantajar a soltura do tempo! Controle o tempo, diga a ele, grite ordens ao tempo e diga a esta dor, que, inalterada e intacta, provavelmente te comerá as melhores horas da vida, até a tua velhice, numa angústia profunda e sem dentes. Sem o caucásio bom das tuas presas curtas de morder, sem as tuas contemplativas vistas tão apaixonantes. Porque de ti, sempre amei a tua desobediência a si mesmo, os teus planos falidos, as tuas sucessivas tentativas de ser, quando existindo perifericamente, nem te davas contas, das maravilhas que és, sem o teu tanto “domínio”, ponderado e enviesado e ajustado em sacramento. E em detrimento destas ranhuras ancestrais, que me insistem em conjurar e conjugar ao teu tempo, num espaço comum de quem tem ouvidos aos mortos, que gritam insistentemente que não existem verdades que sejam jamais escondidas, quando nasceram para passearem nuas, no chão da pele aturdida, exercida, ferida, plenilúnia e clara, como viela de porosos embates e paixões que nos fizeram descer ao mundo, tivesse eu esta noção cristã de lateralidades!
Sei de Deus nos braços dos outros, nos pêlos exasperados, nas feridas cauterizando cicatrização, nas horas sem contagem de um tempo manso, macio e motriz. Sei do que é desenhado com o giz divino, desse mesmo deus, apenas do contorno intumescido dos teus pequeninos mamilos, que ainda lembro, fui o primeiro a chupar, a lamber, procurar o bico, como se eu fora criança grande devassadora, o primeiro gole de bebida agridoce e cheia de veneno e álcool profundos, o primeiro baque entre as carnes das tuas coxas, o primeiro desaviso mais violento da planta certa dos teus pés, como se ainda bramindo nas partes do corpo as fúrias do mar, quando saímos correndo para o chão das areias agora fofas. E creia! Não desejo para ti, nada que não seja de desejo e comunhão, não tenho a pretensão de ser risco para os teus planos, para tua obra, para o teu sucesso, para a tua vida organizada, escalonada pelo toco do teu lápis sempre, cuidadosamente, laminado até o agudo da ponta, para que te reste sempre até o fim a promessa da palavra na hora por ti, esculpida na temperança. Não devolvo rancor, estupor, maldição ou desesperança, muito menos que te morra a criança, mas que também jamais te deixe de nascer o velho e toda a sua dignidade. Foi porque andei até aqui, que sei do que falo e exatamente porque lograste sozinho, o que é só teu, que nesta hora, eu, pornograficamente insano, anárquico, nevrálgico e caligrafado, me permito no que é palavra para trágico e fabuloso, não te pretender voltar a dizer. E que porque meu corpo tão bem tem ouvidos, conchas acústicas, bocetas sonoras e úteros profundos, eu calcifique por toda e qualquer boa necessidade de regenerada perquirição, degenerada e esporeada dor de seguir mundo e chão, jamais trotar como cavalo em fuga, seguir os caminhos infinitos do mundo, te deixando a hora e a própria cara estampada no espelho, o teu próprio julgamento que já o são por demais sumarentos, para que os possa repetir ou fazer coro. Seja realmente feliz, mas não seja escravo das pracinhas.

O Pornógrafo

4 comentários:

  1. Marcelo, muito bom! São palavras de covil, o sentido faminto e pestilento, o mar abrasado, a cova funda das palavras, são curvas, corporificações! Quilhas de palavras, carcaças de lembranças, resgates impossíveis... e uma criança morta, de medo, esse amor, essa ferida acesa, esse coro ancestral, cansado, fendido, abrindo crateras nos verbos dobrando prosa em poesia. É na esquina de todas as horas do homem que não regateia, que abre os corpos e flutua neles o seu fluido de fogo e olhos amarelos. Muito bom. Não soube me distanciar do texto, não quis, para comentar algo mais razoável. Entorno em torno a ti. Admiração enorme. Bjos, querido.

    ResponderExcluir
  2. Na sequencia lógica e cotidiana das estações, que se revezam, não encontramos espaços intermediários n'onde possamos, de alguma forma, espiar, inspirar e admirar um estado-estação em que estejamos livres de dogmas, pré requisitos, modas e comportamentos pré determinados. Criemos então, uma quinta e nova estação, onde o cansaço repouse, se revigore e se transforme em estado de êxtase e satisfação.
    Parabéns pela coragem e assunção de ser e admitir aquilo que simplesmente "É".

    ResponderExcluir
  3. ''Porque de ti, sempre amei a tua desobediência a si mesmo, os teus planos falidos, as tuas sucessivas tentativas de ser, quando existindo perifericamente, nem te davas contas, das maravilhas que és,''
    Parece que tudo que eu digo passa a ser clichê e pobre diante de tnata vida, então não me calo, mas posso expressar com ruídos, frio na barriga e tudo mais? te amo

    ResponderExcluir
  4. Hoje tive o prazer de conhecer a Casa do Pornógrafo... impressiona a musicalidade... expandindo e enlaçando a atenção da capo ao fim... nada que não sorva, respire, arda e alvoroce na construção original das frases e na estrutura perfeita de uma linguagem que surpreende. Parabéns!!!!

    ResponderExcluir