sexta-feira, 11 de novembro de 2011

La lune dans les oreilles






Tomado pela lua, pelas ruas, ele caminhou até a sua casa. Do outro lado das cidades, dos rios, dos veios e trilhos que cortavam ainda a cidade ladeada de matas, cascatas de flores recém orvalhadas, envernizadas pelo gozo fino da noite, apressava seus passos para chegar até a cama, n’onde pousaria seu corpo branco de cera alva e de carregadas inquietações altaneiras, poética juvenil de moços. Deitar seu corpo vestido de nu, do preto, negro, “noir”, dos sutis cuidados de dormir, sentir da ponta dos pés até os revés dos lóbulos das orelhas, vontade sublime e sazonal de ouvir, nos abismos dos ouvidos, a voz do outro, desconhecido.
Coroar e corar com licores bentos a boca e porta da boca do seu sexo, com venturas desiguais, ancestrais, divinais, reconhecidas, desconhecendo todo o curso e o percurso feito no feitio de até então, para apenas deixar que sofismadas ainda vontades, cobrissem de lençóis de gases, ventos subliminares, delicadíssimas teias, forrassem seu corpo, num coro silencioso e intrigante de palavras entre cobertas de pureza e do extrato do pólen colhido das flores, reunindo num só ramalhete nas mãos, o caule duro e teso do próprio pau como se também fosse o pau do outro, o deixando apenas latejar como as fluências de um cio mudo e ao mesmo tempo ruidoso.

Dei para ti, nesta noite de timbradas colorações de prata, o licor desses venenos esporrados com a ponta grossa do meu carinho. Ofertei com sabedoria calada de intuições que só um homem híbrido como eu, farto de ranhuras e cansado de tantos desenganos, a minha pureza já não mais alcançada, lançando hora de escambo e troca, permitindo de mim ser novamente criança.
Pude então perceber que falando da mesma língua, tanto ele quanto eu, desejávamos a mesma língua, a que exaspera com percursos molhados e pontiagudos, o contorno inteiriço das pernas, as cavernas da boca, dos buracos do corpo. Não nos faltava razão, pelo avesso, insistente ela nos procurava em busca de justificativas, solfejando nos nossos intervalos, porquês. E para ele eu desejava dizer que nem sempre existem porquês a serem perseguidos e procurados. Quando o pessegado pomo de nossas bochechas riem sozinhas, quando as nossas linhas mais fortes de expressão da face, apenas querem cerzir das tensões, novo tecido, novo motivo, é preciso deixar e apenas ser. E fomos, por horas intermináveis, que não queríamos fim daquela noite que nunca trespassava alvorada. Não era noite do sol, apenas que nos queimasse o colchão generoso, mas era a noite toda da lua para as penas e pernas entre abertas da tarefa de deixar que o fruto em definitivo se aleitasse, se deleitasse e depois esperasse o outro dia. Não para incertezas, não para abandonos, não para os séculos de insegurança, muito menos ou contrário, não era para “carpe diem”, era para abrir a estrada, descampar o caminho e deixar seguir, com o cumprimento de beijos profundos, sem fim...


O pornógrafo

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