sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Les infirmières de Paris




Eu sou o almofadinha das meias sujas, das cuecas rasgadas, do corpo floral, de cheiros madrigais e de fustigadas e odoradas entradas de pêlos, com perfume ocre e intrigante de virilha. Eu sou o corpo e sou a trilha de incansáveis, perpétuos socorros. Nossa Mãe que nos proteja, da desgraça de nada sentir, porque da necessidade pressuposta de ser emparelhado em fila de bem sucedidos! Bem suceder, para mim, nestes dias, seria comer o teu cu, o teu corpo, teus buracos, tuas entranhas; primeiro, com a língua, depois com a massa de tora e de nervos do corpo do ventre baixo. Alteado em misericórdia e tontura, uma vontade tanta, imensa, como uma elegia, uma alegria de ouvir o teu gemer.
...
Desci correndo as escadarias do prédio de altíssimo azul, de elegantíssimos brocados, de esguia construção, mesmo sendo céu, ele, o prédio, não tinha a pretensão de chegar aos limbos e muito menos eu. Cheguei esbaforido feito um cavalo, suando os meus melhores ternos, querido e possuído de vontade em mim mesmo, de vagar as ruelas da cidade intransferível e bela de Paris, dos anos cinqüenta, ainda conservada em magenta, coloridos mortos, ancestrais trespassados tortos que por ali passaram e passavam assim como eu. E ao chegar ao chão de pequenos trilhos e contornos, estendi o braço forte para o trem e pedi passagem a alguns senhores fedorentos que estavam perturbando meu caminho, o meu dia e minha entrada. Em seguida, procurei com os olhos, com os ovos e os colhões, daquele enfileirado de cadeiras mal asseadas o melhor lugar para poder me assentar. Nenhum lugar, apenas um jovenzinho, enfermeiro todo vestido de branco, com um pequeno detalhe azul no brasão que lho compunha o uniforme de trabalho. Sua cara, de antipatia e sombrancenlhas torneadas de uma apuro, de um cuidado rubor que eu seria capaz de dizer de seu sonho, vestir do baú da mãe no quarto mais vazio da casa, enquanto todos dormiam, o mais lindo e torneado traje de festa e cantar, segurando com fervor e selvageria, o vidro peniano de perfume, que também lhe serviria de consolo, de prazer e desarvoro, nas horas em que se acocorava em cima da cama fofa, para dizer : “__Vinde a mim, mon garçon! Me enterra esta tora até os confins do intestino moço! Vinde a mim!”_ quase bíblico e sacrossanto, como um punhal devassando flanco carne a dentro, no buraco perfumado do seu anus de não mais menino. Adolescente? Talvez, pois que o trabalho em tudo o compunha.
Caminhei mais três filas e me depus corpo inteiro também azul meu terno como o prédio, sem pressa alguma de subir , encostando o meu corpo, metade das pernas e subida do tronco, no seu ombro esquerdo. Simulando, desequilíbrios pelos solavancos do trem, eu me deixava cair cada vez mais, à medida que o sentia pressionar, impressionado com a leitura de um livro de poemas de Santo Agostinho, rapidamente retirado da sua bolsa de couro escuro de fivela arrebentada. Eu odiava Santo Agostinho, mas não me interessava agora, que este saber me fosse interrupção, já que me era ponte sublime, vadia e subliminar para que eu fosse esfregando, pouco a pouco o meu pau no jovenzinho enfermeiro! Tão lindo, de sobrancelhas alteadas, sofismando vontades pelas leituras e sorrisos incapazes de rirem até o fim da boca, pela minha atitude de homem criado, malcriado, grisalho, embora senhor das idades e sempre juvenil.
A velha ao seu lado,se levantou dando lugar para que eu sentasse, mas fiquei de pé, permaneci ali, parado, teso, cheio de uma ereção bombeada do mais puro sangue, cavalo de mais puro sangue , eu sagitário, esperei, pacientemente em meu galope que ele, o menino, me ofertasse o lugar vago, e quem sabe, também os buracos do próprio corpo, os olhos virados para cima qual santo flechado tão sexy, São Sebastião! Ou da própria Santa contemporânea tão perto de nós pelos anos, Teresa de Lisieux e seu olhar pequenino de amplidão e doçura_ e assim o fez “__Senhor, pode assentar-se, o lugar está vago.” Mansidando meu corpo, escorregando lentamente o linho de casimira, das minhas calças de botões dourados, quase estourando pelo relevo dessas emoções de sangue, que só o homem pode compreender vivo em si mesmo, dentro dos próprios calções, das próprias canções veridianas, dissimuladas, me conduzi ainda de frente, oferecendo a fronte e todo o curso de minha altura, primeiramente os meus olhos e para depois, em fim, me depositar pesaroso e macho ao lado dele, moçinha.
Não apelei para nenhum truque. Não encostei a coxa nem abri com largura de covas as pernas, não suspirei alto, não tossi, não fiz de nada do que é fácil para o que se compreende sedução, à todo embaço e embaraço, desses caçadores vulgares de trepadas e gozadas furtivas . Também não me fiz príncipe.Não era príncipe; era o corpo sujo do suor do dia, dentro das roupas de carinho amassado pelos atropelos e esbarros das horas.Era o corpo nu quem dizia o que fazer, sem ao menos me datar, obrigar ou dizer com fome de nenhum grito, o que eu naturalmente deveria fazer. Porque eu deveria daquela hora, alguma coisa fazer. Isso estava certo. Era certo. Principalmente pelo pedido daqueles instantes, desde o tropel dos meus passos largos na escada; desde o burburinho falastrão dos homens e mulheres no trem que não era de carga, mas era pesado e cheio de invirtudes, tão visíveis perturbações passeando na cidade velha ou seguindo suas denominadas direções. Percebi no pescoço torcido, as ruas que não me diziam mais nada, as árvores próprias e copadas de floradas estações de primavera, que mesmo eu, virado em contrário, tinha o corpo prostrado em oferecimento nada sutil ao que dos olhos saltava das letras, o desinteresse pelas palavras chatas de Santo Agostinho, para o meu pau duro e flamejante, pulsante, elegante, a tora se movia enquanto o menino, suspirando, taquicardia e busca rápida de atitudes na sua bolsa, guardando mais que depressa sua encadernação velhaca do Santo, agora desinteressante, como também o era para mim. Mais do que nunca éramos comuns. Vontade em comum, desejo em comum, somente um dedo dobrado, não ainda em riste tocando o meu ombro, para me indagar:
__O senhor, me perdoe, mas poderia me dizer as horas?
__Não tenho as horas, tenho todo o tempo do mundo, tem muito tempo que não uso mais relógios! _ frase de efeito, mas nascida de umas rebarbas de poesia, ele precisa sorrir para mim.
E sorriu.
__Me desculpe! Eu perdi o meu, relógio! E agora vivo assim, sem saber ao certo a hora para onde vou!
__Isso, não me parece tão ruim! Eu pelo menos já não tenho tanto tempo para correr. Longe de mim dramatizar. É que sou mesmo um desocupado, não estando mais nas mãos do trabalho, ele é que está em minhas mãos, compreende?
__Creio que sim! Mas é que para mim, ainda não há tanto passeio.
__Meu passeio é meu trabalho, trabalha comigo hoje então?
__Acabei de chegar de um plantão de estudos, ainda não sou formado, mas quero ser médico. Por enquanto sou apenas um enfermeiro_ e vulgar_ o senhor tem algum ferimento que eu possa tratar?
__Tenho aqui, na altura do ventre um fato no mínimo interessante, que acontece comigo desde que tinha uns sete anos, mas que até hoje me assusta quando acontece, posto que sempre me parece a primeira vez.
__Tenha o senhor certeza de que eu o percebi.
__É que toda a vez que vejo um moço, lindo e frugal como você, ele cresce, se enche numa aceleração natural e como uma fruta de vez, amadurece, fica duro, lateja, sabe como é? Sente vontade de se meter corpo a dentro, como elemento ajuntado, somado ao corpo de figuras que precisam dele. E é quase incontrolável doutor!__Interrompido por ele.
__Ainda não sou doutor, apenas um enfermeiro!
__Mas que já me parece saber muito das coisas. Não é?
__Sei sim, que daqui há duas quadras de árvores seguintes irei saltar desse trem...
__E me levará consigo!
Se levantou dado de uma só vez, lerdeando seus passos, como um potro que esmaga com doçuras femininas e cuidados,a terra para não esmagar os pés dos fedorentos e ficou me esperando, na altura em que o bonde permitia saltar. Somente nessa hora me levanto, deixando que o azul dos meus contornos faça sombra e reverbere no calor do meu assento fundido ao da velha de rabo gigante; o que muito me aqueceu de doenças e corroborações. Saltei do trem uns dois tempos depois do seu pulo e caminhei sem dizer palavra, até que ele parasse enfiando a chave de bronze velho na fechadura da porta negra e imensa. Casa nobre, de fachada elegante, porta aberta, tapete vermelho, imenso e empoeirado, empregados ao corredor, pais sentados à mesa e nenhum incômodo da parte do enfermeirinho.
__Papa, Maman, este é o meu professor de inglês. O senhor professor deseja comer alguma coisa agora?
Sem nenhum susto, apenas mais ainda excitado respondo.
__Agora não, quem sabe daqui a pouco...
__Então vamos? Para o meu quarto, lá me concentro melhor. _Tinha o incrível dom de dissimular, de parecer natural como um ator inglês, sem nenhuma afetação ou tremor que o depusesse contrariedade ao verbo, me oferecia dos seus braços longilíneos a mão e o caminho, o endereço certo do seu corpo, do seu quarto. Era sem embaraço, sem perturbações maiores que o deflagrassem qualquer possibilidade de escôo ou fuga. Ele queria e eu também, para isso era preciso cumprir, fazer, armar e dar condições. Chegando ao quarto, depois de percorrer as escadas do fundo do corredor, uma porta entre aberta e cheia de livros sobre a cama. Quarto de menino, de educando e eu era o educador?
__Feche a porta, por favor! Mas não passe o trinco da chave!
__Como você quiser.
__Quero examinar o que te intriga, coloque para fora da calça para que eu possa ver.
__Se quiser posso retirar a calça toda. Acho que sem essas roupas pesadas você poderá ter melhor condição de saber do todo.
E me ajudando, primeiro arriou as minhas calças como se fosse dono do meu corpo ou cumprisse a função de pai que todos os médicos acabam sendo, sem pretender. Celebrando frieza e olhos fixos, deixou que ainda permanecesse a cueca, a mais velha, a mais suja, a mais amarelada. Por debaixo de tanta pompa, rasava as mãos compenetrado por baixo das minhas pernas, apalpando com força minha virilha, meus lados, meu escroto, minha bunda, quase num abraço, solene. Inventando nova medicina, abraçava o meu corpo discorrendo todo o braço até que a face ficasse suprimida , boca e narinas dilatando os cheiros e a salivada gosma de hálito quente, como o verniz de uma romã em viço, enquanto eu, apenas deixava que eu fosse o seu brinquedo, sua religião, sua ciência. Desatando os braços do amplexo da cintura, querendo nu todo o meu pau e sua estrutura de veias e perfumes rosáceos. Íngreme, abriu todo o anelado da boca de carne e primeiro o supôs , para somente depois fazer intenção de o engolir, e por fim o colocar, como diabrete faminto, como um bezerro desmamado no inteiriço da caverna do palato, os dentes cuidando para não bater e a língua tremulante das esperanças francesas. Chupando como animal desavisado dos adestramentos, era ele mais faminto que eu, oferecendo comida a um desavergonhado luxuoso de tecidos azuis, enquanto por baixo se guardava numa cueca suja, gozada ainda do corpo de outra puta, cantora, atriz, senhora de um cabaré, n’onde provavelmente ele nunca cantaria.
Dessa trindade de olores, vi quando no lânguido dos seus ombros e da dobradura do seu abdome, ele me pedia, já sem forças, domínio. Dominar seu corpo científico de menino quase doutor, para lançado em cima da cama, no meio dos livros de religião e anatomia, retirando da boca para colocar no buraco agora sim, premiado, até que ele gozasse o fenômeno dos seus leites, enquanto tinha dentro, não um vidro de perfume, até dizer trincando os dentes, desarrumando os cabelos dos penteados de passeio: “Vinde a mim, mon garçon! Vinde a mim!”

O pornógrafo

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